sábado, 19 de fevereiro de 2011

220 - 265: Guerra dos Três Reinos na China

O período de Três Reinos, pinyin: Sānguó) é um período na história da China, parte de uma era da desunião chamada Seis Dinastias. Em um sentido acadêmico profundo, se aceita o período entre a fundação de Wei em 220 à conquista de Wu pela Dinastia de Jin em 280. Entretanto, muitos historiadores chineses estendem o ponto de partida deste período para antes da revolta dos Turbantes Amarelos, em 184. O período posterior, parte “não oficial” do período, 190 a 220, foi marcado por lutas caóticas entre generais em várias partes da China. A parte média do período, de 220 e de 263, foi marcada por um arranjo mais militar e estável entre três estados rivais:

reino de Wei
reino de Han , Shu-Han , ou Shu , (pinyin: shǔ)
e reino de Wu .
A sequência dos fatos se dá com destruição de Shu por Wei (263), então a queda de Wei pela Primeira Dinastia Jin (265), e a destruição de Wu por Jin (280). Para distinguir estes estados de uns estados mais adiantados com o mesmo nome, os historiadores propõem um carácter adicional: Wei é conhecido também como Cao Wei (曹魏), Han é conhecido também como Shu Han (蜀漢), que se tornou mais tarde Shu, e Wu é conhecido também como Wu oriental (東吳).

O termo próprio “três reinos” é um tanto inexpressivo, sendo que cada estado foi dirigido eventualmente por um Imperador que reivindicou a sucessão legítima da Dinastia Han, não por reis. Não obstante o termo tornou-se padrão entre sinologistas e será usado neste artigo.

Embora relativamente curto este período histórico, foi romantizado extremamente nas culturas da China, do Japão, da Coreia e do Vietnam. Foi comemorado e popularizado nas óperas, histórias populares, novelas e em épocas mais recentes, em umas películas, em umas séries da televisão, e nos jogos de vídeogame. O melhor destes é, indubitavelmente, o "Romance dos Três Reinos". O registro histórico autenticado da era é Sanguo Zhi de Chen Shou, junto com umas anotações mais antigas do texto de Pei Songzhi.

O período de três reinos é também um do mais sangrentos na história chinesa. Um censo da população na Dinastia oriental antes dos Han relatou uma população de aproximadamente 56 milhões, quando o censo da população na dinastia ocidental posterior de Jin (depois que Jin reunificou a China) relatou uma população de aproximadamente 16 milhões. Mesmo fazendo exame na ocorrência destes relatórios de censo, é seguro supor que uma grande parte da população esteve fora durante as guerras constantes empreendidas durante este período.


Colapso do poder dinástico
O que é pensado tradicionalmente como do começo do período“não-oficial” dos três reinos, é a rebelião dos Turbantes Amarelos, conduzida por Zhang Jiao em 184. A maneira pacifica composta primeiramente dos fazendeiros que vinham sofrendo extremamente sob o sistema corrupto do governo, se tinham convertido assim, facilmente por Zhang Jiao para criar “um mundo novo e calmo”.A rebelião terminou quando Zhang Jiao morreu de doença, mas com o caos da rebelião feita, quando combinada com os desastres naturais que varriam a China no mesmo período, desestabilizou a Dinastia Han e conduziu-o a cair. A rebelião fez com que também o governo central aumentasse a permissão do poder militar dos governos locais, que é uma da causa do período guerreiro se que seguiu.

As séries dos eventos que conduzem ao colapso do poder dinástico e à ascensão de Cao Cao são extremamente complexas. A morte do Imperador Ling em maio 189 conduziu-lhe a uma regência instável sob o General-chefe He Jin, e renovou a rivalidade entre as facções dos Eunucos e a burocracia civil regular. Depois do assassinato de Jin, seu aliado principal o Coronel-Tenente, Yuan Shao conduziu um massacre aos Eunucos nos palácios imperiais em Luoyang. Este evento alertou Dong Zhuo a entrar em Luoyang, do limite noroeste de China. Então a China enfrentou os poderosos bárbaros da tribo de Qiang ao noroeste, e Dong Zhuo controlava um exército numeroso com treinamento de elite. Quando trouxe o exército a Luoyang, podia controlar facilmente os exércitos existentes e fazer um controle da corte imperial. Dong Zhuo manipulou a sucessão de modo que o Imperador futuro Xian pudesse tomar posse do trono no lugar de seu meio-irmão mais velho. (Dong Zhuo, sendo ambicioso, desejava ser genuinamente um imperador mais capaz. Em sua incursão até Luoyang, encontrou uma tropa pequena de soldados que protegiam os dois filhos do Imperador Ling que fugiam da zona de guerra. No encontro Dong Zhuo agiu arrogantemente e ameaçando, fazendo com que o meio-irmão mais velho ficasse paralisado de medo; porém, o irmão mais novo, o Imperador futuro Xian, respondendo calmamente e com autoridade comandou Dong Zhuo para proteger a família real com seu exército por retornar à corte imperial.) Quando Dong Zhuo quis originalmente restabelecer a autoridade do império de Han e controlar corretamente todo o conflito político, sua potencialidade política provou ser pior do que sua liderança militar. Seu comportamento se revelou mais violento e autoritário, executando ou mandando a exílio todos que se opunham, e mostrado menos respeito ao imperador. Ignorou toda a etiquete real e carregava abertamente armas na corte imperial frequentemente. Em 190 uma coalizão conduzida por Yuan Shao foi-se dando forma entre quase todas as autoridades provinciais nas províncias orientais do império de encontro a Dong Zhuo. A pressão da derrota repetida na Linha de Frente do sul foi de encontro às forças de Jian, que dirigiu o Imperador de Han ao oeste antes de Dong Zhuo, ele mesmo indo a Chang'an em maio 191.

Dong Zhuo outra vez demonstrou sua falta da gerência de um país, forçando milhões dos residentes de Luoyang a migrar a Chang'an, a seguir ateou fogo em Luoyang para destruir, naquele tempo a maior cidade da China, de modo que seus inimigos não ganhassem ocupações úteis ao chegar. Além disso, requisitou de seu exército uma vila inteira de civis, decapitando suas cabeças e carregado-as em Chang'an para mostrar como se fossem troféus de guerra, fingindo ter tido uma vitória grande contra seus inimigos. Um ano mais tarde Dong Zhuo foi morto por Wang Yun e por Lu Bu (que era adotivo de Dong Zhuo).



A ascensão de Cao Cao
Escultura de um soldado estrangeiro, no século III d.C na China.Em 191, havia a intenção, entre a coalizão, de apontar Liu Yu, um parente imperial, como o imperador, mas, gradualmente seus membros começaram a sair da coalizão. A maioria dos generais, com algumas exceções estavam procurando o aumento do poder militar pessoal na época da instabilidade em vez de ter seriamente o desejo restaurar a autoridade da Dinastia Han. O império Han foi dividido entre o número de generais regionais. Yuan Shao ocupou a área do norte de Ye e estendeu seu poder ao norte do rio amarelo, contra Gongsun Zan, que fechou a fronteira do norte. Cao Cao, diretamente ao sul de Yuan, se engajou em um esforço contra Yuan Shu e a Liu Biao, que ocuparam respectivamente a bacia do rio de Huai e as regiões médias de Yangzi. Mais ao sul, o jovem Sun Ce ascendeu ao trono após a morte de Sun Jian, seu pai, e estabelecia seu governo no Yangzi mais baixo. No oeste, Liu Zhang dominou a província de Hanzhong e o noroeste foi controlado por uma seleção de oficias e de generais menores tais como Teng de Xiliang, nascido em Yizhou, cidade de Dong Zhuo.

Dong Zhuo, confiando em seu sucesso, foi atacado por seu próprio filho adotivo, Lu Bu. Lu Bu foi atacado por sua vez pelos generais de Dong Zhuo, Li Jue e por Guo Si.Ele fugiu para Zhang Yang, um general do norte, e permaneceu com ele por um momento antes de repentinamente se juntar a Yuan Shao. Mas estava claro que o Lu Bu era demasiado independente e estava longe de servir a outro.

Em agosto de 195, o Imperador Xian fugiu da tirania de Li Jue em Chang'an e fez uma viagem perigosa ao leste na busca por suporte. Por volta de 196, quando foi recebido por Cao Cao, a maioria dos que continham alguma forma de poder tinham sido absorvidos pelos mais fortes ou destruídos. Este é um movimento extremamente importante para Cao Cao pois, com a sugestão de seu conselheiro, Xun Yu, comentando que por ter dado suporte ao Imperador Autentico, Cao Cao teria legalmente autoridade formal para controlar os outros generais e para forçá-los a se unificarem a fim de restaurar a dinastia Han.

Cao Cao, cuja zona de controle era a precursora do reino de Wei, tinha levantado um exército no inverno de 189. Em diversos movimentos e batalhas estratégicas, controlou a província de Dui e derrotou diversas facções dos rebeldes Turbantes Amarelos e ganhou a ajuda de outros militares locais controlados por Zhang Miao e Chen Gong, que junta à sua causa para poder criar seu próprio exército. Continuou o esforço e absorveu aproximadamente 300.000 do exército dos Turbantes Amarelos, bem como grupos militares ao lado oriental da província de Qing.


Os Três Reinos no ano 262.Em 196 estabeleceu uma corte imperial em Xuchang e desenvolveu as colônias agricultoras militares (tuntian) para suportar seu exército. Impôs um sistema de imposto pesado nos termos dos produtos (40% a 60%) para fazendeiros civis empregados, mas todos os fazendeiros estavam mais do que satisfeito pois trabalhavam com estabilidade relativa e proteção militar profissional em um momento do caos. Esta é dita mais tarde ser sua segunda política importante ao sucesso.

Em 194, Cao Cao guerreou contra Tao Qian da província de Xu. Tao Qian recebeu o apoio de Liu Bei e de Gongsun Zan, mas então, pareciam que as forças de Cao Cao fossem superiores para invadir Xuzhou inteiramente. Entretanto, Cao Cao recebeu a notícia que Lu Bu tinham tomado a província de Yan na sua ausência, e assim, recuou, pondo uma parada às hostilidades contra Tao Qian por certo tempo. Tao Qian morreu no mesmo ano, deixando sua província a Liu Bei. Um ano mais tarde, em 195, Cao Cao expulsou Lu Bu de Yan. Lu Bu fugiu para a província de Xu e foi recebido por Liu Bei, e uma aliança começou entre os dois.

No sul, Sun Ce, então um general sob o serviço de Yuan Shu, derrotou os generais da província de Yang, incluindo Liu Yao, Wang Lang, e Yan Baihu. A velocidade com que Sun Ce realizou seus conquistas conduziu a seu apelido, “Pequeno Conquistador” (小霸王), uma referência ao anterior Xiang Yu. Em 97, Yuan Shu, que estava contra Cao Cao, e Liu Bei, ficou assegurado da vitória com as conquistas de seus subordinado, e assim se auto-declarando imperador do Dinastia Cheng. O movimento, entretanto, continha um erro tático, porque atraiu o ira de muitos generais da época, incluindo Sun Ce, subordinado de Yuan Shu, sendo que Yuan Shu tinha o recomendado para não fazer tal movimento. Cao Cao ordenou para que se expusesse Sun Ce para atacar Yuan Shu. Sun Ce concordou, mas primeiro convenceu Cao Cao para dar forma a um coalizão contra Yuan Shu, de que Liu Bei e Lu Bu eram membros. Atacado em todos os lados, Yuan Shu foi derrotado e fugiu pra se esconder.

Mais tarde, Lu Bu traiu Liu Bei e tomou Xuzhou, dando forma a uma aliança com as forças que restaram de Yuan Shu. Liu Bei fugiu para Cao Cao, que o aceitou. Logo, preparações foram feitas para atacarem Lu Bu, e as forças combinadas de Cao Cao e Liu Bei se encontraram em Xia Pi. Os oficiais de Lu Bu desertaram e as forças de Yuan Shu nunca chegaram como reforços, por isso Lu Bu conseguiu vencer os próprios soldados e executados junto com muitos de seus oficiais. Assim, o homem conhecido como o guerreiro mais poderoso da época, começou a fugir.

Em 200, Dong Cheng, um oficial da corte imperial, recebeu um edito secreto do Imperador para assassinar Cao Cao. Colaborou com Liu Bei neste esforço, mas Cao Cao logo soube disso por meio de um espião e capturou Dong Cheng e seus co-conspiradores executado-os, com somente Liu Bei sobrevivendo e fugindo pra Yuan Shao, no norte.

Após estabelecer as províncias próximas, incluindo uma região controlada anteriormente pelos Turbantes Amarelos, Cao Cao virou sua atenção ao norte, a Yuan Shao, que ele mesmo tinha eliminado seu rival do norte, Gongsun Zan, naquele mesmo ano. Yuan Shao, ele mesmo de uma nobreza mais elevada do que Cao Cao, ajuntou um exército grande e acampou ao longo de um banco ao norte do rio amarelo. Em 200, após ter ganhado uma batalha decisiva contra Liu Biao em Shaxian e ter acabado com as rebeliões de Xu Gong e outros, Sun Ce foi vítima de uma feitiçaria do mago Yu Ji. Em seu leito de morte nomeou seu irmão mais novo, Sun Quan, como seu sucessor.

Depois de meses de preparação, Cao Cao e Yuan Shao encontraram-se com suas força em Guandu. Superando Yuan numericamente, Cao Cao decisivamente derrotou-o ateando fogo a suas fontes, e fazendo isso aleijou o exército do norte. Liu Bei foragido, foi para Liu Biao na província de Jing, e muitos das forças de Yuan Shao foram destruídos. Em 202, Cao Cao tirou vantagem, pois da morte de Yuan Shao e da divisão resultante entre seus filhos ao norte, avançou o rio Amarelo. Capturou Ye em 204 e ocupou as províncias de Ji, Bing, de Qing e de You. Para o fim de 207, após uma campanha relâmpago contra os bárbaros de Wuhuan, Cao Cao tinha conseguido indisputavelmente o domínio da planície norte de China.

Batalha de Chang ban
Cao Cao decidiu acabar com a aliança com Liu Bei o chamou e disse "Só existem dois heróis aqui na China um sou eu e o outro és tu". Com isso Liu Bei solicitou a ajuda de Zhuge Liang para ser seu estrategista, durante a longa batalha que lhes esperava. Zhuge Liang aceitou pois descobriu que a visão que Liu Bei tinha era de uma China em paz sem lutas. Zhuge Liang disse a Liu Bei "Seremos divididos em três reinos Wu, Shu e Wei que farão de tudo para conquistar a China". Cao Cao reuniu um grande exército e atacou Liu Bei em Chang Ban, onde o povo decidiu juntar-se a Liu Bei conseguindo milagrosamente escapar por meio de barcos com o povo salvo. Assim decidiu conquistar o trono de Shu ocupado por sua família .

Batalha de Cheng Du
Após saber disso Liu Bei moveu-se a atacar Cheng Du que era onde o imperador de Shu Liu Zhang estaria reuniu alguns generais depois da morte de Pang Tong por meio de uma armadilha,Liu Bei decide-se mover e começar a atacar Liu Zhang e lutar pelos seus sonhos acaba ganhando com a ajuda de Zhuge Liang e Zhao Yun. Assim Shu tem um novo líder (Liu Bei).

Batalha de Chi bi
Em 208, Cao Cao marchou para o sul com seu exército pois esperava unificar rapidamente o império. O filho de Liu Biao, Liu Zong rendeu a província de Jing e Cao Cao pode capturar uma frota valiosa em Jiangling. Sun Quan, o sucessor Sun Ce no Yangzi mais baixo, continuava a resistência com a ajuda do seu aliado Liu Bei. Seu conselheiro, Lu Su, fixou uma aliança com Liu Bei. Seus exércitos combinados de 50.000 homens, encontraram-se com a frota de Cao Cao de 200.000 nos Penhascos Vermelhos (conhecida também como a batalha de Chi Bi) no inverno. Após um ataque inicial, um ataque com navios-incêndiarios infligiu uma derrota decisiva em Cao Cao, forçando-o recuar ao norte. A vitória aliada em Penhascos Vermelhos assegurou a sobrevivência de Liu Bei e Sun Quan, que fundaram a base para os estados de Shu e de Wu.

Batalha de Yi
Após a Batalha de Jing, Liu Bei apontou o reino de Wu como verdadeiro culpado por ter decapitado Guan Yu, e avançou sobre Yi, a oeste de Jing, as tropas de Shu continuavam a atacar, Lu Xun, estrategista de Wu, nada fez, manteve as tropas em batalha, após um longo processo, as tropas de Shu estavam sem moral, ja não conseguiam lutar, nessa hora, Lu Xun ordenou que suas tropas incendiassem o campo de Shu, acabando com a moral de Shu, sem chances de vitória, Liu Bei retornou a Cheng Du e morreu mais tarde, durante a batalha, as tropas de Shu mataram Zhang Fei

Batalha de shi Ting
Zhou fang, um general renomado de Wu, ofereceu a Cao Xiu rendição, Cao Xiu, general de Wei, aceitou a proposta e moveu-se até Shi ting, temendo o pior, Wei mandou outros generais escoltarem-no, ao chegar a Wan Castle, Cao Xiu entrou em uma emboscada de Zhou Fang, as Tropas de Wu começaram um ataque, Cao Xiu conseguiu fugir de Wan castle, no entanto, o reino de Wei perdeu muitas tropas, saindo de campo derrotado

Depois que retornou ao norte, Cao Cao se contentou em absorver as regiões do noroeste, e, em 211 a consolidar seu poder. Aumentou progressivamente seus títulos e o poder, assentando bem eventualmente como príncipe de Wei em 217, um título nomeado a ele pelo imperador Han, o fantoche esse ele controlava. Liu Bei invadiu a província de Yi e mais tarde em 214 retirou Liu Zhang do governo, deixando seu comandante Guan Yu no comando da província de Jing. Sun Quan, que nos anos seguintes estava aprimorando suas defesas contra Cao Cao no sudeste em Hefei, virou agora sua atenção à província de Jing e ao Yangzi médio. As tensões entre os aliados eram cada vez mais visíveis. Em 219, depois que Liu Bei conquistou Hanzhong de Cao Cao, era Guan Yu que sitiava Fan, o comandante-chefe Lü Meng de Sun Quan que com a ajuda do aliado temporário Cao Cao tomou secretamente a província de Jing

Três Imperadores
No primeiro mês de 220, Cao Cao morreu e no décimo mês seu filho Cao Pi forçou o Imperador Xian a abdicar o trono, terminando assim a Dinastia Han. Nomeou seu estado Wei e se autoproclamou imperador em Luoyang. Em 221, Liu Bei nomeou-se Imperador de Han, em uma oferta para restaurar a dinastia Han. (Seu estado é conhecido como “Shu” ou “Shu-Han”.) mais Sun Quan no mesmo ano, o estado Wei deu a Sun Quan o título de rei de Wu. Um ano mais tarde, as tropas de Shu-Han declararam guerra contra Wu e encontraram-se com os exércitos de Wu na batalha de Yiling. Em Yiling, Liu Bei desastrosamente foi derrotado pelo comandante Lu Xun de Sun Quan e forçado a recuar para Shu, onde morreu logo depois. Após a morte de Liu Bei, Shu e Wu começaram a ter relações amigáveis à custa de Wei. Em 222, Sun Quan renunciou seu reconhecimento do regime do Cao Pi e, em 229, declarou-se imperador em Wuchang.

O Domínio do norte pertenceu completamente a Wei, enquanto Shu ocupou o sudoeste e Wu o sul e o leste centrais. As beiras externas dos estados foram limitadas geralmente à extensão da civilização chinesa. Por exemplo, o controle político de Shu em sua fronteira do sul foi limitado pelos Tai, tribos das modernas Yunnan e de Burma, conhecidos coletivamente como os Bárbaros do Sul (南蠻).

População
A população poderia ser calculada a partir do registro oficial de Sanguo Zhi de Chen Shou. Em termos de números, Wei era muito maior, retendo mais de 660.000 casas e 4.400.000 povos dentro de suas fronteiras. Shu teve uma população de 1.940.000, e Wu 2.300.000. Assim, Wei teve mais de 58% da população ao redor de 40% do território. Com estes recursos, estima-se que poderia levantar um exército de 440.000 enquanto Shu e Wu poderiam controlar 100.000 e 230.000. A aliança Wu-Shu contra Wei provou-se ser uma configuração militar estável; as fronteiras básicas dos três reinos permaneceram quase imutáveis por mais de quarenta anos.

Comércio e Transporte
Em termos econômicos a divisão dos três reinos refletiu uma realidade que resistiu muito. Mesmo ao norte de Song, setecentos anos após os três reinos, era possível pensar na China como sendo composto de três grandes mercados regionais. Há um grande canal que liga o norte e o sul, e transportando através do Yangzi que ligam a China do sul com o Sichuan e das estradas que juntam Sichuan com o noroeste.

Declínio dos Três Reinos
A partir de 230, as tensões começaram a se tornar visíveis entre o clã imperial de Cao e o clã de Sima. Depois da morte de Cao Zhen, o conflito era evidente entre Cao Shuang e o grande comandante Sima Yi. Deliberadamente, Cao Shuang colocou seus próprios parentes em cargos importantes e excluiu Sima, pois o considerou como uma ameaça. O poder do clã Sima, uma das maiores famílias nas terras de Han, era favorecida por vitórias militares de Sima Yi. Adicionalmente, Sima Yi era um estrategista e um político extremamente capaz. Em 238 esmagou a rebelião de Gongsun Yuan e anexou a região de Liaodong. Finalmente, disputou com Cao Shuang o jogo de poder. Tirando vantagem, fazendo excursões pelas famílias imperiais aos túmulos de Gaoping, Sima empreendeu um ataque em Luoyang, forçando a autoridade da facção de Cao Shuang. Muitos no poder protestaram, oprimindo a família de Sima.

Queda de Shu
A força diminuindo do clã Cao foi espelhada pelo declínio de Shu. Zhuge Liang ganhou grandes quantidades de terra em Wei. Após a morte de Zhuge Liang, sua posição como o tenente Chanceler caiu a Jiang Wei, a Fei Yi e a Dong Yun, nessa ordem. Mas após 258, a política de Shu tornou-se cada vez mais controlada pelo facção dos Eunucos e uma onda de corrupção. Apesar dos esforços enérgicos de Jiang Wei, Shu era incapaz de fixar uma vitória decisiva de contra Wei. Em 263, Wei lançou um ataque e o exército de Shu foi forçado a recuar para Hanzhong. Jiang Wei manteve com dificuldade uma posição em Jiang, mas foi flanqueado pelo comandante Deng Ai de Wei, que fez uma marcha-forçada com o seu exército de Yinping através do território considerado anteriormente inexpugnável. Durante o inverno daquele ano, a importante Chengdu tinha caído e o imperador Liu Chan tinha-se rendido. O estado de Shu caiu após anos de forte resistência.

Queda de Wei
Cao Huan sucedeu o trono em 260 depois que o Cao Mao foi morto por Sima Zhao. Logo após, Sima Zhao morreu e seu título de Senhor de Jin foi herdado por seu filho Sima Yan. Sima Yan imediatamente começou a traçar meios de tornar-se Imperador.Devido ao conselho de seus conselheiros, Cao Huan decidiu-se que o melhor curso de ação seria abdicar, ao contrário de seu predecessor Cao Mao,eficazmente Sima Yan subjugou a Dinastia Wei e estabelecendo a Dinastia de Jin como o sucessor. Esta situação era similar a deposição do Imperador Xian da Dinastia Han por Cao Pi, seguido pela Dinastia Wei.

Queda de Wu
Depois da morte de Sun Quan, em 252, o reino de Wu entrou em um período de declínio constante. A opressão bem sucedida de Wei e das rebeliões na região de Huainan por Sima Zhao e por Sima Shi reduziu toda a oportunidade da influência de Wu. A queda de Shu sinalizou uma mudança na política de Wei. Sima Yan (neto de Sima Yi), após ter aceitado a rendição de Liu Chan, subjugou o imperador de Wei e proclamou sua própria dinastia Jin em 264, terminando os 46 anos da dominação dos Cao ao norte. Depois da ascensão de Jin, Sun Xiu do Imperador de Wu, morreu e o trono foi empossado por Sun Hao. Sun Hao era um homem jovem e tinha planos, mas após a ascensão transformou-se um tirano. Em 269 Yang Hu, comandante de Jin no sul, começou preparar-se para a invasão de Wu requisitando a construção de uma frota e treinando fuzileiros navais em Sichuan sob Wang Jun. Quatro anos mais tarde, Lu Kang, último grande general de Wu, morreu, não deixando nenhum sucessor competente. A ofensiva de planejada de Jin veio finalmente ao término no inverno de 279. Sima Yan lançou cinco ofensivas simultâneas ao longo do rio de Yangzi de Jianye a Jiangling enquanto a frota de Sichuan margeava o rio à província de Jing. Sob a tensão de um ataque tão enorme, a força de Wu desmoronou e Jianye caiu no terceiro mês de 280. Sun Hao o Imperador rendeu-se. Isto marcou o fim da era de três reinos, e o começo de uma longa era de caos que durou 300 anos,terminando somente na dinastia Sui.
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215 - 168: Guerras Macedônicas




As guerras macedônicas
As guerras macedônicas foram conflitos ocorridos entre Roma e Macedônia nos séculos III e II a.C.. Teve seu início pela disputa política e territorial.

A primeira guerra da macedônica, ocorrida entre 211 - 205 a.C., Filipe V enfrentou a oposição de uma aliança entre Roma, Etólia e Pérgamo. Porém, como Roma estava envolvida com a Segunda Guerra Púnica, Felipe V obrigou a Etólia a aceitar os termos como sua aliada, na tentativa de enfraquecer a aliança e derrotar Roma. A primeira guerra terminou rapidamente, pois Roma também estava muito envolvida com a segunda das guerras púnicas.

A segunda guerra macedônica aconteceu no ano de 200 a.C, quando Roma exigiu que os macedônicos se retirassem completamente da Grécia. Filipe V aceitou em parte, pois queria continuar mantendo o poder sobre algumas cidades gregas, fato que não foi aceito pelos gregos. Filipe V foi definitivamente derrotado em Cinoscéfalos em 197 a.C..

No ano de 179 a.C., Perseu, filho de Filipe V, subiu ao trono, dando início a uma bem-sucedida política de influências e boas relações coma Grécia. Ao contrário de seu pai, que via os gregos como inferiores, ele possuía um contato muito próximo com a Grécia e com isso obtinha vantagens. Isso acabou gerando grande preocupação em Roma, dando início assim, a Terceira Guerra Macedônica, esta também com vitória romana, em Pidna no ano 168 a.C.


A Macedônia acabou dividida em quatro repúblicas todas sob o domínio romano. Entre os anos de 149 a.C. - 148 a.C., Andrisco, que afirmava ser filho de Perseu, tentou subir ao trono, mas foi derrotado e a Macedônia tornou-se província romana, pondo fim à série de guerras entre Roma e Macedônia.
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quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

58 a.C. - 50 a.C.: Guerras da Gália, conquista da Gália por Júlio César




Designa-se historiograficamente por Guerras da Gália (ou Gálicas) a série de campanhas de Júlio César iniciadas em abril de 58 a.C. e finalizadas durante a primavera de 52 a.C., quando, após um cerco de dois meses, César apoderou-se de Alésia e aprisionou Vercingetórix, líder dos Gauleses. Estas campanhas permitiram estabelecer o domínio romano sobre a Europa a oeste do rio Reno (Gália Transalpina).

Após atravessar a a Gália Transalpina, César expulsou as tribos germânicas fixadas ao sul e ao leste, as belgas ao norte e os vênetos a oeste. Atravessou o Reno para mostrar o poder de controle das fronteiras. Favorecido pela desunião intertribal, subjugou implacavelmente as costas norte e oeste. Invadiu duas vezes (55 a.C. e 54 a.C.) a Bretanha, que era vista como refúgio belga e ameaça para Roma. No inverno de 53 a.C.-52 a.C., Vercingetórix reuniu as tribos da Gália central numa unidade incomum, promovendo a insurreição dos povos da Gália iniciado com o massacre dos Romanos em Orléans. Em longa e amarga batalha, César derrotou Vercingetórix e os seus sucessores, culminando na rendição do chefe gaulês.





De Bello Gallico
De Bello Gallico.Júlio César escreveu um livro relatando as diversas campanhas na então Gália, o De Bello Gallico ("Das Guerras na Gália"). A obra é de interesse inquestionável como relato das campanhas, já que foi escrita por um dos protagonistas, embora a interpretação do seu conteúdo seja largamente discutida, considerando muitas passagens como propaganda de César sobre o seu exército e sua capacidade de liderança. Existe até mesmo uma edição acrescida de comentários de Napoleão Bonaparte.

A conquista da Gália por Júlio César
Há dois mil e cinquenta anos, Júlio César, um dos mais célebres estadistas romanos, publicou um relato da sua campanha contra as tribos celtas que então viviam espalhadas por regiões que hoje fazem parte da Suíça, França, Bélgica e Inglaterra, denominando-o Commentarii de bello gallico ("Comentários sobre a Guerra Gálica"), consagrando-o como um excelente historiador.


A Gália nos tempos de Júlio César (58 a.C.).Seu livro tornou-se leitura obrigatória para os estudantes de latim. Que extensão tinha a região conquistada pelos romanos e quem eram as tribos e qual a cultura dos que lá habitavam e como fez César para dominá-la, é o que o se segue.

César abre a primeira página do seu livro com uma das suas mais conhecidas frases: Gallia est divisa in partes tres ("a Gália está toda dividida em três partes"). E, de fato, assim era. Bem ao norte, a "Terra dos Celtas" era habitada pelos belgas, no centro pelos gauleses propriamente dito, e, ao sul dela, pelos aquitânios. Politicamente, a parte meridional encontrava-se nas mão dos romanos desde 222 a.C.-121 a.C., que a denominavam de Gália Narbonense, tendo como principal centro era o porto de Marselha.

A posse dessa região costeira do Mediterrâneo permitia-lhes trafegar de maneira segura pela Via Domitia, a estrada que ligava a fronteira da Itália ao Leste, com a da Ibéria, ao Oeste. Geograficamente, ela se estendia de Milão, no vale do Rio Pó, até o sopé das montanhas dos Pirenéus. Foi para lá que enviaram Caio Júlio César, de distinguida e aristocrática família latina, como pro-cônsul da Gália Narbonense, no ano de 59 a.C.

O povo que lá vivia, no que os romanos denominavam de Gália Comata, eram os celtas, separados entre si pelas mais diversas razões. Dividiam-se eles, de um modo geral, em galos Heudos, Arvernos, Belgas, e nos que compunham as tribos marítimas que habitavam nas margens do Atlântico (onde hoje se situam a Bretanha e a Normandia, regiões da França). Esses gauleses, rústicos e durões, que até então estavam fora da órbita romana, eram chamado de "galos cabeludos" (Gallo comata), para separá-los dos chamados "galos togados" (já totalmente romanizados).

Caçadores e guerreiros, envolvidos em intermináveis desavenças tribais, os galos cabeludos desprezavam a atividade agrícola, apesar da grande fertilidade do solo da França. Dedicavam-se à criação de cavalos e de gado doméstico, havendo porém entre eles grandes artistas no trabalho com bronze, estanho e objetos de prata. O pouco comércio que conheciam era em geral praticado por comerciantes romanos que trafegavam pelos seus rios e aldeias, trazendo-lhes produtos de fora.

Reis, chefes e druidas
A organização política dos gauleses, ou a ausência dela, foi sua perdição. Os territórios celtas continham inúmeras tribos que ora eram governadas por um pequeno número de nobres guerreiros, outra por reis ou chefes clânicos, e até por um curioso tipo de magistrado, o Vergobret, escolhido, tal como o cônsul romano, por um período de um ano. Para o leitor de César, fica evidente que a diversidade política dos galos cabeludos, e o desacerto que dai decorre, facilitou sua capitulação final frente aos romanos. Contra os galos cabeludos, César pôde exercer a plenitude da máxima Divide ut regnes ("Divide e domina"), tática que os líderes romanos sempre souberam tão bem aplicar contra os outros povos.


As deidades celtas
Se eles desacertavam-se, envolvidos em intermináveis rixas tribais, havia porém um sentimento unívoco de eles pertencerem a um único universo religioso. Belenus, o deus da luz, Belisama, a deusa da luz e do fogo, Cernunnos, o deus da fertilidade, Epona a protetora dos cavalos, e Smertrios, o deus da guerra (equivalente ao que Marte representava para os romanos), eram deidades sagradas em todo o mundo celta.

Existia entre eles a confraria dos druidas, os sacerdotes-xamãs que formavam a influente elite religiosa. Anualmente, vindos das mais distantes regiões da Terra dos Celtas, eles se reuniam num grande concílio em Chartres (onde, bem mais tarde, no século XII, a Igreja Católica, para celebrar sua vitória sobre o paganismo, fez erguer uma das maiores catedrais da Europa), para trocarem receitas de poções e saberem das novidades.



A Gália, que ocupava apenas uma parte do noroeste da península Itálica (Gália Cisalpina) e uma estreita faixa de terra ao sul da atual França (Gália Narbonense), passou a incluir o equivalente ao atual território da França e da Bélgica.

A campanha de César na Gália
Sabendo explorar as desavenças e as eternas desconfianças reinantes entre os gauleses cabeludos, particularmente entre as duas grandes tribos que habitavam a parte central da Gália, os heudos e os arvernos, Júlio César se pôs em marcha. O pretexto para intervir na Gália Transalpina foi a provável invasão dela pelos germanos, que faziam ameaças do outro lado do Rio Reno.

Com apenas quatro legiões (a 7ª, a 8ª, a 9ª, e a 10ª), uns 24 mil homens, fora as tropas auxiliares, o romano deslocou-se pelos seis anos seguintes, entre 58 a.C. e 52 a.C. , por quase todo o território da Gália, impondo-lhe a obediência ao gládio e à lei de Roma. Sob seu comando, à sua disposição, ele tinha uma das grandes invenções de Roma: a legião.

A legião romana
Ver artigo principal: legião romana
Impressionante parte da máquina de guerra romana, cada legião tinha um efetivo de 5000 a 5500 soldados engajados por contrato. Disciplinados e bem treinados, divididos em coortes, em centúrias e decúrias, os legionários, auxiliados por uma cavalaria audaz, realizavam maravilhas nos campos de batalha. Não só neles. Mesmo no descanso, eles não tinham descanso. No acampamento era o momento em que o pilus (a lança) era substituída pela pá.

Com ela, cavavam uma trincheira retangular ao redor das barracas e erguiam paliçadas no perímetro delas para nunca serem apanhados de surpresa pelos inimigos. Eram capazes de, arrumados em linhas (velites, manípulos de hastati, principes, e triarii), onde recrutas e veteranos se intercalavam, enfrentar contingentes de forças muito superiores às suas, graças à coesão e às táticas de luta em conjunto em que se exercitavam.

Em geral, os bárbaros, desconsiderando o comando único, atacavam em hordas, onde cada clã, quase cada guerreiro, tratava de vencer por si só a batalha, tornando-se presa fácil das organizadas tropas romanas. Mesmo quando depois de ter recebido reforços (seu efetivo parece ter saltado para 50-55 mil homens), não deixa de ser impressionante o fato de Júlio César ter submetido um território de 600 mil quilômetros quadrados com tão pouca gente.

O exemplo de César
Ver artigo principal: Júlio César
O próprio Júlio César revelou-se um comandante notável. Vestindo o paludamentum, uma cota militar vermelha para poder ser visto de qualquer canto da batalha pelos seus soldados, foram inúmeras as vezes em que ele empunhou um escudo e foi para as linhas de frente dar ânimo aos seus soldados. Bateu os helvécios, os germanos, os belgas, os vênetos e armóricos, os bretões e finalmente sufocou a resistência dos gauleses arvernos.

Suas tropas marcharam pelos Montes Jura, pelas margens do Rio Reno (chegando a construir pontes para atravessá-lo), pelas florestas das Ardenas, pelas planícies do Flandres, pela costa do Atlântico, e, atravessando o Canal da Mancha, chegaram às Ilhas Britânicas. Idolatrado pelos soldados, César acompanhava-os a cavalo ou a pé, procurando estar sempre presente nos pontos mais frágeis da defesa para que o seu exemplo de destemor e tranquilidade não permitisse aos soldados desandarem ou desertarem.

Alésia e a capitulação de Vercingetórix
Ver artigo principal: Batalha de Alésia
Vercingetorix se rende a César.O levante de Vercingétorix, o chefe dos galos arvernos, foi um dos mais impressionantes e emocionantes acontecimentos da história antiga. O grande caudilho, decepcionado pelo conformismo da nobreza gaulesa com a ocupação romana, "faz nos campos", narrou César, "um alistamento de pobretões e homens perdidos. Com esta tropa chama a seu partido todos os da cidade, que vai encontrando; exorta-os a tomarem armas pela liberdade comum".

A essa altura a Gália inteira ferveu. O gaulês insurgente consegue impor uma derrota parcial às legiões de César que tentaram capturá-lo em Gergóvia (perto de Clermont-Ferrand), conclamando então o povo a uma guerra total contra os romanos. Que queimassem tudo, as choças e as colheitas, nada deixando ao invasor. César, porém, se recupera e aplica sucessivas derrotas à cavalaria gaulesa.

Vercingétorix, retirando-se com 80 mil homens e 9 mil cavalos para Alésia, no alto do Monte Auxois, pensa em repetir Gergóvia, onde resistira com êxito ao sitio do romano. Só que desta vez foi diferente. César tomou-se de precauções. Os seus engenheiros traçaram rapidamente um plano de circunvalação do oppidum, a fortificação dos gauleses. De novo os 55 mil legionários empunharam a pá. Em seis semanas, eles abriram mais de vinte quilômetros de trincheiras, montando um complexo sistema de valas, fossas, armadilhas as mais diversas, e uma paliçada completa, com torres erguidas a cada 120 metros. César decidira-se matar os gauleses pela fome.

Vercingetórix, liberando sua cavalaria, ordenou que eles trouxessem reforços de todas as partes da Gália. Novamente César se precaveu. Uma outra circunvalação foi escavada, desta vez voltada para fora, para poder resistir ao inevitável ataque que viria dentro de uns tempos. De fato, uma massa de 250 mil gauleses de quase todas as tribos partira em socorro do capitão gaulês preso pelo garrote romano em Alésia.

Enquanto isso, no interior da cidade cercada, a fome fazia seus estragos. Casos de antropofagia começaram a ocorrer[carece de fontes?]. As esperanças de Vercingétorix de ser salvo se esvaíram quando ele viu, lá dos altos da sua paliçada, os romanos de César aplicarem uma derrota acachapante nos reforços que viriam tirá-lo do apremio. Sim, pois eles conseguiram por a correr aquela multidão formidável. A batalha pela liberdade estava perdida. A Gália estava cativa. César vencera.

A atitude nobre de Vercingétorix
Vercingétorix se rende a Júlio César.No dia seguinte ao desastre, quando não havia na Gália inteira nenhuma força organizada para poder fazer reverter o sítio de Alésia, Vercingétorix convocou o conselho militar dos seus oficiais. Nas palavras de César, "demonstra-lhes que havia empreendido a guerra, não por interesse seu particular, mas pela liberdade comum, e pois que se tinha que ceder à fortuna, se lhes oferecia para uma das duas coisas, ou para com sua morte satisfazer aos romanos, ou para o entregarem vivo aos mesmos, como melhor entendessem".

E foi assim que procedeu. Montando no seu corcel, vestido de luzente armadura, Vercingétorix cavalgou para o acampamento do inimigo. César recebeu-o num tablado improvisado, onde sentava num pequeno trono. Ordenou ao vencido que entregasse o cavalo e suas armas a guarda.

Vercingétorix desfez-se de tudo e foi sentar-se aos pés de César. Os demais gauleses sobreviventes foram entregues aos legionários como butim de guerra. O bravo Vercingétorix foi posteriormente conduzido a Roma e jogado em uma cela, onde terminou estrangulado, talvez uns cinco anos depois de Alésia.

Depois de Alésia
Para Júlio César essa batalha foi decisiva na sua carreira. Vitorioso na Gália, ele decidiu, três anos depois, ao atravessar o Rubicão em 49 a.C., disputar com Pompeu a hegemonia sobre a República Romana, tornada império universal. Venceu-o.

Tornou-se ditador em 46 a.C. e morreu assassinado nos idos de março de 44 a.C. numa conspiração de senadores, entre os quais Brutus que, uns anos antes, estava com ele, ajudando-o a derrotar Vercingétorix. O poder depois da morte de César foi disputado entre seu sobrinho-neto Otávio, e um antigo auxiliar de César, Marco Antônio (também um veterano das Guerras da Gália).

Para a Gália, a derrota em Alésia significou a derrocada da cultura celta e sua substituição pela romana. César, ao ordenar que o latim se tornasse a língua oficial das tribos gaulesas submetidas, foi, de certa forma, um dos forjadores da língua francesa atual, uma das mais belas heranças da Roma Antiga. Deste então, surgiu na Gália uma nova civilização, a civilização galo-romana.

Bem mais tarde, no século III, na época da anarquia militar, aproveitando-se da situação caótica em que o Império Romano se encontrava, durante quatorze anos seis chefes galo-romanos proclamaram-se imperadores (de 259 a 273). Este surto independentista pode ser considerado como a última manifestação dos gauleses de tentarem reaver sua independência, ainda que abrigados com o manto do imperador de Roma.

As campanhas de César na Gália (58 a.C - 52 a.C.)
58 a.C. Helvécios - Líder: Dunórix - Tentativa dos helvécios de invadirem, partindo da Suíça, o Sul da Gália. Foram derrotados por César na batalha de Bibracte, aceitando em seguida a situação de vassalagem.

57 a.C. Germanos - Líder: Ariovisto - Luta pela hegemonia da Gália setentrional. Os germanos foram derrotados perto de Besançon, entre as atuais Alsácia e Franche-Comté, e Ariovisto buscou refúgio além do Rio Reno. César ordena a travessia do rio dos germanos para punir a tribo dos sugambros.

56 a.C. Belgas - Líder: Galba - Reação das tribos belgas à presença romana na sua fronteira. Batidos por César perto de Novon, capitulam.

55 a.C. Tribos marítimas - César desloca-se para a costa atlântica e enfrenta os gauleses armóricos ou vênetos, numa guerra por terra e por mar. Duras represálias contra as lideranças das tribos marítimas que resistiram aos romanos.

55 a.C.-4 a.C. Bretões - Líder: Casivelauno - Expedição punitiva de César às Ilhas Britânicas, pelos bretões terem dado abrigo aos patriotas da Armórica que lá procuraram refúgio. Depois de um acordo, César recuou para a Gália.

53 a.C. Gauleses - Líder: Ambriórix e outros - Levante geral contra os romanos. César com sua presença consegue fazer refluir o movimento.

52 a.C. Gauleses - Líder: Vercingétorix - Nova insurreição, desta vez popular. Trata-se de uma rebelião geral contra o invasor. César é batido em Gergóvia, mas, em seguida, consegue cercar os gauleses em Alésia. Rendição de Vercingétorix. Fim da Gália independente, tornada desde então província romana.
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264 a.C. - 146 a.C.: Guerras Púnicas contra Cartago


As Guerras Púnicas consistiram numa série de três conflitos que opuseram a República Romana e a República de Cartago, cidade-estado fenícia, no período entre 264 a.C. e 146 a.C.. Ao fim das Guerras Púnicas, Cartago foi totalmente destruída.

O adjectivo "púnico" deriva do nome dado aos cartagineses pelos romanos (Punici) (de Poenici, ou seja, de ascendência fenícia)

Localizada no norte da África, por volta do século III a.C. Cartago dominava o comércio do Mediterrâneo. Os ricos comerciantes cartagineses possuíam diversas colônias na Sardenha, Córsega e a oeste da Sicília (ilhas ricas na produção de cereais), no sul de península Ibérica (onde exploravam minérios como a prata) e em toda costa setentrional da África.

CAUSAS

As Guerras Púnicas tiveram como causa a rivalidade entre Roma e Cartago, pela hegemonia econômica, política e militar no mar Mediterrâneo ocidental, importante meio de transporte de mercadorias naquela época.

Quando Roma anexou os portos do sul da península Itálica, os interesses de Nápoles e Tarento (atual Taranto) (colônias gregas rivais de Cartago, na Magna Grécia) tornaram-se interesses romanos, a guerra passou a ser inevitável. Era quase certo que Roma, como líder dos gregos ocidentais, iria intervir na luta secular entre sicilianos e cartagineses.

As forças das duas potências eram bastante equilibradas, pois o poderio de ambas era sustentado por uma comunidade de cidadãos e um poderoso exército, fortalecido por aliados em caso de guerra.



AS HOSTILIDADES
A maior parte da Sicília era habitada por cartagineses, em luta constante com as colônias gregas da Magna Grécia. Os romanos intervieram e uma de suas legiões, com o apoio de Siracusa, ocupou a cidade de Messina. Os cartagineses declararam guerra a Roma.


Batalhas da Segunda Guerra Púnica.O general cartaginês Amílcar conquistou o sul da península Ibérica. Dali, seu filho Aníbal, em 218 a.C., desencadeou a Segunda Guerra Púnica. Partindo da península Ibérica, atravessou os Alpes e chegou à península Itálica. Venceu os romanos em várias batalhas, mas não marchou sobre Roma.

Isso possibilitou aos romanos a conquista da península Ibérica, a destruição de sua base logística e o desembarque na África, levando a guerra ao solo cartaginês. Aníbal, obrigado a retornar a Cartago, foi derrotado por Cipião Africano, em 202 a.C., na batalha de Zama.

Severa foi a pena imposta a Cartago, que teve de pagar pesados impostos e também ficou proibida de fazer guerra a outros povos sem ordens do senado romano. Em Roma, o senador Catão iniciava intensa campanha contra Cartago. Todos os seus discursos terminavam com a frase: "Cartago precisa ser destruída" (delenda est Carthago).

Usado o pretexto que Cartago desobedecera a Roma, em 146 a.C., Cipião Emiliano, com suas forças, arrasou totalmente a cidade, queimando-a e colocando sal pelo solo, "para que ali nada mais crescesse".



AS TRÊS GUERRAS
A Primeira Guerra Púnica foi principalmente uma guerra naval que se desenrolou de 264 a.C. até 241 a.C.. Iniciou-se com a intervenção romana em Messina, colônia de Cartago situada na Sicília. O conflito trouxe uma novidade para os romanos: o combate no mar. Com hábeis marinheiros, Cartago era a principal potência marítima do período. Os romanos só conquistaram a vitória após copiar, com a ajuda dos gregos, os barcos inimigos.
A Segunda Guerra Púnica ficou famosa pela travessia dos Alpes, efetuada por Aníbal Barca, e desenrolou-se de 218 a.C. até 202 a.C..Desenvolveu-se quase toda em território romano. Liderados por Aníbal, os cartagineses conquistaram várias vitórias. O quadro só se reverteu com a decisão romana de atacar Cartago. Aníbal viu-se então obrigado a recuar para defender sua cidade e acabou derrotado na Batalha de Zama.
A Terceira Guerra Púnica, que se desenrolou de 149 a.C. a 146 a.C.. Roma foi implacável com o inimigo. Atacou e destruiu completamente a cidade de Cartago,escravizando os sobreviventes. Com isso completou-se o ciclo de batalhas que deu grande parte do Mar Mediterrâneo aos romanos.




AS CONSEQUÊNCIAS DAS GUERRAS PÚNICAS
Roma passou a dominar todo o comércio do Mediterrâneo Ocidental e a partir daí iniciou suas conquistas territoriais com as quais dominou todo o Mediterrâneo e grande parte da Europa.
Com o crescimento do comércio, surgiu uma nova classe social denominada homens novos/ cavalheiros/ comerciantes (plebeus e patrícios então falidos).
Surgiu em Roma um grave problema social, pois as conquistas aumentaram muito o número de escravos, o que gerou um grande desemprego na plebe.
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terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

334 a.C. - 323 a.C.: Campanhas de Alexandre o Grande


Alexandre, o Grande. Uma das personalidades mais fascinantes da história. Responsável pela construção de um dos maiores impérios que já existiu. Sua inteligência e gênio estratégico se tornaram lendários. Alguns de seus contemporâneos chegaram até a supor que ele fosse filho de Zeus, o líder dos deuses do Olimpo.

Na verdade, Alexandre não era um deus, e nem um semideus, mas um apenas um homem, com qualidades excepcionais, mas ainda assim um homem. Vamos ver a seguir um pouco de sua vida e da época em que ele viveu. Mas antes de falarmos dele, vamos falar um pouco da Grécia Antiga - cuja cultura Alexandre difundiu para outras partes do mundo - e da Macedônia, a região onde esse conquistador, filho do rei Filipe 2º, nasceu.


O mundo grego

As cidades da Grécia antiga funcionavam como "países" ou Estados independentes, cada uma com seu próprio governo e suas próprias leis. Um grego nascido em uma cidade seria considerado estrangeiro em outra. Por isso, as cidades da Grécia antiga são chamadas de cidades-Estados.


A Guerra do Peloponeso

Embora compartilhassem a mesma língua, cultura e religião, os antigos gregos estavam divididos politicamente. Não raro, uma cidade grega estava em guerra contra outra. Uma dessas guerras foi a Guerra do Peloponeso, que durou quase 30 anos. A Guerra do Peloponeso foi travada entre as duas mais poderosas cidades-Estado da Grécia Antiga: Atenas e Esparta, que disputaram a hegemonia sobre a região.

Quase todas as cidades-Estado gregas se envolveram ou foram envolvidas no conflito, algumas se aliaram a Atenas, enquanto outras se aliaram a Esparta. Essa guerra teve início no ano 431 a.C e terminou somente em 404 a.C., quando Atenas rendeu-se a Esparta. Uma das conseqüências da Guerra do Peloponeso foi o extremo empobrecimento da população grega: os pobres ficaram ainda mais pobres e foram os que mais sofreram.

Contudo, enquanto as cidades-Estado gregas lutavam entre si, um reino vizinho, a Macedônia, ganhava força.


O Reino da Macedônia

A Macedônia localizava-se na península dos Bálcãs, também chamada de península Balcânica, a nordeste da Grécia. A maioria da população era formada por camponeses livres, cujas principais ocupações eram o cultivo de terras e a criação de gado. A língua falada na Macedônia era parecida com a falada na Grécia, mas não era exatamente a mesma.

Apesar das semelhanças culturais, os antigos gregos viam com desprezo o povo da Macedônia. Na visão preconceituosa dos antigos gregos, os macedônios não passavam de montanheses ignorantes que pouco diferiam dos povos chamados de "bárbaros". Em 359 a.C., aos 23 anos de idade, Filipe tornou-se rei da Macedônia, com o nome de Filipe 2º.

Antes disso, ele havia passado três anos como refém em Tebas, uma cidade grega, onde aprendeu as mais avançadas táticas militares da época e testemunhou as violentas batalhas entre as cidades gregas. Filipe 2º aplicou tudo o que aprendeu em Tebas para organizar um exército poderoso e bem treinado.


O exército de Filipe da Macedônia

A cavalaria do exército de Filipe 2º era toda formada por membros da nobreza (o grupo privilegiado) enquanto que a infantaria (o grupo de soldados que lutam a pé, sem montaria) era formada por homens livres pobres. Ao transformar a Macedônia numa potência militar, Filipe 2º deu início à conquista da Grécia, que já se encontrava enfraquecida em decorrência da Guerra do Peloponeso.

O ateniense Demóstenes liderou uma união das cidades gregas contra a invasão macedônia. No entanto, essa união não foi suficiente para vencer o exército macedônio, que era muito mais bem treinado, e os gregos acabaram sendo derrotados definitivamente em 338 a.C. na batalha de Queronéia, nome de outra cidade grega.


Guerra contra a Pérsia

Após ter conquistado a Grécia, Filipe 2º começou a planejar uma guerra contra a Pérsia, região que corresponde mais ou menos ao Irã atual. Os persas eram donos de um grande império e vários povos estavam sob o seu domínio. Os tesouros dos reis persas e as terras férteis desse império atraíram o interesse do rei macedônio.

No entanto, Filipe 2º foi assassinado durante a festa de casamento de sua filha, quando já havia iniciado os preparativos para a guerra contra os persas. O assassino era supostamente um ex-amante rancoroso (tanto na Grécia quanto na Macedônia, era socialmente aceito que um homem tivesse amantes de ambos os sexos).

Também se suspeitou que Alexandre tivesse tramado o assassinato do próprio pai. Já segundo o historiador grego Plutarco, o assassinato foi tramado pelo recém coroado rei da Pérsia, Dario 3º.


Alexandre sobe ao trono

Com a morte do pai, Alexandre, que tinha então 20 anos, se tornou o novo rei da Macedônia. Antes de se tornar rei, o jovem Alexandre já tinha experiência política e militar. Aos 16 anos, quando o pai liderou um ataque contra a cidade de Bizâncio (atual Istambul, na Turquia), em 340 a.C., Alexandre assumiu temporariamente o reino da Macedônia. Alexandre também auxiliou o pai na batalha de Queronéia, liderando a cavalaria.

Apesar de violento, Alexandre também era culto e sofisticado. Ele adquiriu uma sólida formação cultural graças às aulas que recebeu de Aristóteles, um dos maiores filósofos da Antigüidade. Aristóteles estudou na Academia de Platão, importante filósofo grego. Foi Filipe 2º quem confiou a educação de Alexandre aos cuidados de Aristóteles.


A conquista do Egito

Em 334 a.C., Alexandre liderou um exército de milhares de homens e atravessou a Ásia Menor. Esse exército era formado por macedônios e gregos. Além dos soldados, Alexandre também levou sábios da época para estudar a fauna e flora local e cartografar o terreno.O interesse de Alexandre pela ciência foi estimulado pelas aulas que teve com seu mestre.

Durante a campanha, o jovem rei conquistou o litoral da Ásia Menor, marchou contra a Síria e derrotou o exército persa na batalha de Isso. Também dominou Tiro, cidade portuária que era considerada inconquistável. Após a conquista dessa cidade, milhares de pessoas foram mortas e um e outras milhares foram escravizadas, pois Alexandre punia com a morte ou com a escravidão a população das cidades que ousassem resistir.

Depois disso, o exército de Alexandre avançou rumo ao Egito, onde não encontrou resistência. Para os egípcios, Alexandre foi considerado um libertador, porque os livrou do domínio persa. Por isso, os sacerdotes egípcios manifestaram sua gratidão fazendo de Alexandre um novo faraó. Vale lembrar que, no Egito, os faraós eram considerados deuses, o que dá uma idéia de como Alexandre era visto em sua época.

Alexandre aproveitou a ocasião e fundou uma nova cidade no Egito, Alexandria, que veio a se tornar local de uma das maiores bibliotecas da Antigüidade e um importante centro cultural nos séculos seguintes.


A queda do Império Persa

Do Egito, Alexandre marchou com seus soldados em direção à Mesopotâmia. O exército persa era mais numeroso que o de Alexandre e contava com cavalaria, elefantes (que eram usados nos campos de batalha mais ou menos como os atuais tanques de guerra) e carruagens com rodas cujos eixos tinham lâminas pontiagudas.

Quando essas carruagens corriam nos campos de batalha, essas lâminas giravam junto com as rodas e cortavam os soldados inimigos que estivessem no caminho. Apesar disso tudo, o exército persa acabou derrotado. Uma das razões para a derrota foi o fato de que os persas lutavam desmotivados: o rei Dario 3º havia obrigado os homens a se alistarem para a guerra.

O rei persa fugiu. Depois disso, o exército de Alexandre passou pelas cidades da Babilônia e de Persépolis. Essa última foi incendiada por ordem de Alexandre para vingar a destruição de Atenas pelos persas mais de 150 anos antes. Quando Alexandre finalmente alcançou Dario, este acabou morto por membros da sua própria corte.


Ambição sem limites de Alexandre

A ambição de Alexandre não conhecia limites. Não bastassem as conquistas já realizadas, ele decidiu invadir a Ásia Central, atravessando o que hoje é o Afeganistão em direção ao norte da Índia. A resistência da população local foi muito forte. Somente após três anos de luta e massacres o exército de Alexandre conseguiu conquistar uma pequena parte da região.

Alexandre pretendia penetrar ainda mais no território da Índia, mas os seus soldados, tanto gregos quanto macedônios, estavam cansados de guerras intermináveis e difíceis e se recusaram a prosseguir. A contragosto, em 325 a.C, Alexandre se viu obrigado a abandonar seus planos de novas conquistas.

Como resultado de todas essas campanhas, Alexandre criou um império que se estendia da Grécia ao rio Indo. Ele não voltou para a Macedônia, permanecendo na Babilônia. Imitando os antigos reis persas, ele cercou-se de luxo e até ordenou que seus nobres se ajoelhassem diante dele e beijassem sua mão.

Em 323 a.C, aos 33 anos incompletos, Alexandre morreu, vitimado por uma febre. Seus generais começaram a disputar o poder entre si. O vasto império acabou se dividindo em reinos menores, dos quais os mais importantes eram os da Macedônia, da Síria e do Egito. Os generais de Alexandre se tornaram os governantes desses reinos.


O legado de Alexandre, o Grande

Alexandre contribuiu para a difusão da cultura grega no Oriente. Suas conquistas aproximaram Ocidente e Oriente, dando origem a uma nova cultura, a helenística, resultado da mistura das culturas ocidental e oriental. Em grande parte, essa mistura foi estimulada pelo próprio Alexandre, que além de ser tolerante em relação à religião e cultura dos povos conquistados, incentivava que os homens do exército se casassem com mulheres orientais. Ele próprio deu o exemplo, casando-se com três princesas persas. Ele teve dois filhos: um com uma de suas esposas e o outro com uma de suas concubinas.

Por fim, a figura de Alexandre acabou servindo de inspiração para outro líder militar que viveu depois dele: Júlio César, o general romano que fundamentou as bases do que veio a se tornar o Império Romano.


A sexualidade de Alexandre

Um dos aspectos que mais atrai a curiosidade do público atual a respeito de Alexandre é o fato de que, segundo várias fontes, Alexandre não escondia o fato de que mantinha relações sexuais com homens e mulheres. Esse aspecto foi bastante reforçado no filme "Alexandre", dirigido pelo cineasta norte-americano Oliver Stone. Segundo essas fontes, apesar de seus casamentos e filhos, Alexandre preferia a companhia de um dos seus amantes.

No entanto, de acordo com algumas dessas mesmas fontes, Alexandre condenava relacionamentos baseados apenas na atração física. Curiosamente, para alguns, no mundo grego, a homossexualidade masculina era tolerada apenas quando envolvesse o relacionamento de homens mais velhos com homens mais jovens (na visão dos gregos, a beleza era um atributo das pessoas jovens, tanto moças, quanto rapazes).

O que chamava a atenção no caso de Alexandre foi o fato de ter mantido relacionamentos com homens que tinham praticamente a mesma idade que ele. Por outro lado, muitos dos relatos a respeito da vida sexual ou amorosa de Alexandre são vistos com reservas, pois foram escritos muitos séculos depois de sua morte.
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431 a.C. - 404 a.C.: Guerra do Peloponeso





A guerra do Peloponeso foi um conflito armado entre Atenas (centro político e civilizacional por excelência do mundo do século V a.C.) e Esparta (cidade de tradição militarista e costumes austeros), de 431 a 404 a.C. Sua história foi detalhadamente registrada por Tucídides e Xenofonte. De acordo com Tucídides, a razão fundamental da guerra foi o crescimento do poder ateniense e o temor que o mesmo despertava entre os espartanos. A cidade de Corinto foi especialmente atuante, pressionando Esparta a fim de que esta declarasse guerra contra Atenas.

As relações entre Atenas e Esparta eram tensas, ainda que formalmente amigáveis durante as Guerras Médicas, agudizando-se gradualmente a partir de 450 a.C., com lutas freqüentes e tréguas cíclicas, tudo pela disputa da hegemonia grega.

Atenas, dominando politicamente a Liga de Delos (também chamada de Liga Marítima Ateniense), controlava o comércio marítimo com a sua poderosa frota, desfrutando igualmente de uma boa situação financeira.

Esparta, por seu lado, assentava a sua estratégia política num exército imbatível e bem treinado, respondendo à Liga de Delos com uma confederação de cidades, a Liga do Peloponeso, que reunia, além da importante cidade marítima de Corinto, as cidades do Peloponeso (península no sul da Grécia) e da Grécia central. O crescente poderio e a riqueza inigualável de Atenas alarmava Esparta, como dizia Tucídides. A guerra era assim inevitável, como pensava Péricles, que acumulou uma notável reserva financeira para suportar um conflito em larga escala. No ano de 445 a.C., ainda se chegou a um acordo de paz que deveria durar trinta anos. Todavia, as alianças estavam feitas, e aí residia o detonador da guerra. Mas o acordo de paz não durou, e assim chegou a decadência de toda a Grécia.

Corcira, colônia de Corinto, ponte natural entre a Grécia e o Ocidente, queria celebrar com Atenas uma aliança, que daria condições de dominar o comércio com o Ocidente. Corinto era aliada de Esparta, o que implicava que Córcira alinhasse nessa aliança. As cidades de Esparta, Corinto, Tebas e Mégara aliaram-se contra Atenas e seus aliados. Na primavera de 431 a.C. - no Outono e no Inverno não se combatia -, Tebas, aliada de Esparta na Grécia Central, atacou Platéia, antiga aliada de Atenas, dando início à Guerra do Peloponeso, que durou 27 anos e envolveu quase todas as cidades-estados gregas, provocando o enfraquecimento da Grécia.

De 431 a 421 a.C., os beligerantes devastaram reciprocamente seus respectivos territórios sem chegarem a alcançar êxitos decisivos.

Esparta invadiu a Ática com seus aliados em 431 a.C. Péricles, avaliando corretamente a superioridade do exército terrestre de Esparta, convenceu os atenienses a refugiar a população do território da polis ateniense dentro das longas muralhas que ligavam Atenas a seu porto, o Pireu, e a evitar uma batalha em terra com o superior exército espartano. Atenas confiava em sua frota de trirremes para invadir o Peloponeso e proteger seu império e suas rotas comerciais, mas foi gravemente surpreendida pela deflagração de uma epidemia - conhecida como Peste do Egito - em 430 a.C., que matou cerca de um terço da população da superpopulosa Atenas, inclusive Péricles. Isso afetou o moral dos aliados de Atenas e provocou uma frustrada rebelião da ilha de Lesbos contra a hegemonia da cidade ática. Apesar disso, a frota teve boa performance e foi estabelecida uma trégua de um ano, em 423 a.C.

O resultado das lutas foi variável nos anos seguintes. Na batalha de Anfípolis, no ano 422 a.C., morreram os chefes dos dois exércitos inimigos, o ateniense Cléon e o espartano Brásidas. A Cléon, defensor da continuidade da guerra a todo custo, sucedeu Nícias. A guerra estava equilibrada e as cidades beligerantes desgastadas. Por isso, esse primeiro período foi encerrado em 421 a.C. pelo Tratado de Nícias, que garantia a paz durante cinqüenta anos. Aproveitando-se disso, as cidades aliadas a Atenas procuraram se libertar de sua opressão, ameaçando todo o sistema democrático que se apoiava na cobrança de tributos.


O segundo período foi de 415 a 413 a.C. A trégua, que deveria se prolongar durante cinqüenta anos, durou somente seis. Alcibíades liderou um movimento de oposição a Esparta no Peloponeso; suas esperanças esvaneceram-se com a vitória de Esparta em Mantinéia, em 418 a.C. A saída para a crise do sistema democrático era uma grande vitória militar contra a Liga do Peloponeso. Assim, em 415 a.C. foi preparada uma grande e poderosa esquadra, comandada por Alcibíades, para atacar a cidade siciliana de Siracusa (na Magna Grécia) e outras regiões da península Itálica, colônias de onde provinham os alimentos para Esparta e seus aliados. Alcibíades, principal defensor da expedição à Sicília (415-413 a.C.) foi acusado de impiedoso por seus adversários políticos em Atenas. Alcibíades, então, fugiu para Esparta e traiu os atenienses.

Esparta enviou então um poderoso exército para a Sicília, o que resultou num completo desastre para Atenas. A frota e o exército atenienses foram desbaratados pelas forças espartanas diante de Siracusa. Dá-se aí o ponto de viragem da Guerra do Peloponeso, apesar da derrota ter acontecido por um triz, mercê de uma chefia fraca aquando da invasão da Sicília, traduzindo o claro declínio político e militar surgido com a morte de Péricles. Os historiadores vêem no desaparecimento deste a razão do desastre ateniense, gorando-se a união da Hélade em torno de Atenas.

Na cidade de Atenas, tomou o poder um grupo oligárquico partidário da paz. Mas a sublevação da armada de guerra, desejosa de reiniciar o conflito, forçou o restabelecimento da democracia e, com ela, a continuação da guerra.

Na invasão de Siracusa pelas forças atenienses, não foi um exército espartano que iniciou a derrocada da frota, mas sim, apenas um general, Gilippo, pois os espartanos não tinham força naval suficientes para transportar um exército para o além-mar de Siracusa. Portanto, a tática espartana não foi enviar forças armadas para seus aliados, mas enviar um exemplo de coragem e habilidade bélica. O generel Gilippo treinou e disciplinou a grandiosa força siracusana e graças à estratégias dignas de uma mente militar brilhante, foi possível expulsar os atenienses e encurralá-los, sem suprimentos e com a frota avariada, no litoral.

O terceiro período começou em 412 a.C.; a fortificação de Decélia, na Ática, pelos espartanos, e revoltas generalizadas entre seus aliados pressionaram Atenas, que havia perdido grande parte de sua frota na Sicília e estava falida e atormentada por convulsões políticas. Apesar disso e graças, em grande parte, a Alcibíades, nomeado estratego das forças atenienses, a sorte de Atenas ressurgiu, com vitórias navais em Cinosema (411 a.C.), e Cícico ou Cízico (410 a.C.), e com a reconquista de Bizâncio (408 a.C.).

Houve mais uma vitória em Arginuse, em 406 a.C. Os espartanos aliaram-se aos Persas em troca do financiamento de uma frota de navios para invadir Atenas, deixando, assim, o caminho livre para que os medos conquistassem as colônias gregas da Jônia (Ásia Menor). A partir de então, os espartanos, ajudados pelo ouro dos persas e pelas habilidades estratégicas e táticas do espartano Lisandro alteraram a balança. A tomada de Lâmpsaco, o triunfo na Batalha de Egospótamos (405 a.C.), perto do rio Egospótamos, e o controle do Helesponto pelos espartanos subjugaram Atenas, pela fome. Esparta venceu a Guerra do Peloponeso após a rendição de Atenas em abril de 404 a.C. As condições de paz foram desastrosas para a cidade de Atenas, enquanto Esparta se convertia no centro hegemônico da Grécia.

Seguiu-se imediatamente um golpe oligárquico em Atenas, apoiado por Esparta. A oligarquia, com o apoio das tropas espartanas, tomou o poder dos democratas. Esse governo ficou conhecido como Tirania dos Trinta, porque era formado por trinta oligarcas. A Tirania dos Trinta dissolveu a Confederação de Delos e entregou o resto da frota Ateniense a Esparta. A democracia foi restabelecida em 403 a.C..

O declínio de Atenas marcou a ascensão de Esparta e desfez a única via possível para a unificação política do mundo grego, afetada rudemente com a devolução aos Persas das cidades da Ásia Menor em troca do seu ouro. A substituição do império ateniense, baseado no projeto de Delos, por um outro, militarizado, como o de Esparta, não trouxe grandes alterações ou momentos de grandeza helênica. Ao contrário, iniciou-se o apagar do "fogo grego".

A importância desta guerra reside também no fato de ter envolvido quase todos os Estados gregos, além de ter registrado um número sem precedentes de homens em armas e um elevado consumo de recursos materiais. O poder naval foi fundamental, num teatro de operações onde tal se justificava, pois desenrolou-se entre a Ásia Menor e a Sicília. Anteriormente, as guerras tinham um caráter estival, de curta duração, com alguns rencontros de infantaria (hoplitas) e poucos combatentes, sem grandes estratégias e investimentos logísticos, com um carácter simples e com o seu fim a depender de cadências pela fome ou fuga de uma facção. A Guerra do Peloponeso foi diferente: grandes blocos de Estados, várias áreas de combate, com estratégia definida e dependendo da ação de Esparta ou Atenas - uma, potência terrestre; a outra, naval e detentora de um império financeiro e comercial.
















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499 a.C. - 479 a.C.: Guerras Médicas




Chamam-se Guerras Médicas ou Guerras Greco-Persas[1] aos conflitos bélicos entre os antigos gregos e o Império Persa durante o século V a.C..

As Guerras Médicas ocorreram entre os povos gregos (aqueus, jônios, dórios e eólios) e os medo-persas, pela disputa sobre a Jônia na Ásia Menor, quando as colônias gregas da região, principalmente Mileto, tentaram livrar-se do domínio persa.

Esta região da Jônia era colonizada pela Grécia, mas durante a expansão persa em direção ao Ocidente, este poderoso império conquistou estas diversas colônias gregas da Ásia Menor, entre elas Mileto. As colônias lideradas por Mileto e contando com a ajuda de Atenas, tentaram sem sucesso libertar-se do domínio persa, promovendo uma revolta.

Estas revoltas levaram o imperador persa Dario I a lançar seu poderoso exército sobre a Grécia continental, dando início às Guerras Médicas. O que estava em jogo era o controle marítimo-comercial na região.

Após a derrota da Lídia frente aos persas (em 546 a.C., provavelmente), as cidades gregas da Jônia passaram ao domínio persa. Em 499 a.C., com o apoio de Atenas e Erétria revoltaram-se, mas foram vencidas entre 497 e 494 a.C.. Em 490 a.C., Dario (522/486 a.C.) decidiu enviar à Grécia continental uma expedição punitiva. Erétria foi arrasada e saqueada, mas os atenienses e platenses, chefiados por Milcíades (550/489 a.C.), conseguiram rechaçar os persas na planície de Maratona.

Xerxes (486/465 a.C.), filho de Dario, comandou dez anos depois (480 a.C.) uma invasão à Grécia em grande escala. Algumas cidades gregas, lideradas por Atenas e Esparta, formaram uma coalização para enfrentar o invasor. Outras, como Tebas, submeteram-se aos persas.

Inicialmente, os persas venceram os gregos no desfiladeiro das Termópilas e em Artemision; a seguir, invadiram e saquearam Atenas. A frota ateniense, porém, comandada por Temístocles (524 a.C./459 a.C.), conseguiu destruir a frota persa em Salamina e mudou o rumo da guerra. Meses depois, comandada pelo espartano Pausânias (510/467 a.C.), o exército da coalização grega venceu o exército persa em Platéia e pôs fim à invasão.

Os gregos conseguiram, certamente, impedir a presença dos persas em seu território. Eles continuaram, porém, influindo no relacionamento entre as cidades gregas durante todo o Período Clássico.


Império Persa em seu apogeu em 500 a.C..Nesse primeiro confronto (a primeira guerra médica), surpreendentemente, cerca de dez mil gregos, liderados pelo ateniense Milcíades, conseguiram impedir o desembarque de mais de vinte mil persas (alguns autores falam em 50 mil, outros em 250 mil, não se sabe precisamente o efetivo persa), vencendo-os na batalha de Maratona em 490 a.C.


O Império Persa em 490 a.C.Para se defenderem dos persas, algumas cidades-estado gregas organizaram a liga de Delos[2], da qual se aproveitou Atenas para se sobrepor no mundo grego, pois era responsável pelo dinheiro da Confederação e passou a usá-lo em benefício próprio. Com isso, impulsionou sua indústria, seu comércio e modernizou-se, ingressando numa era de grande prosperidade, e impondo sua hegemonia ao mundo grego. O auge dessa época ocorreu entre 461 e 431 a.C., durante o governo de Péricles, por isto o século V a.C.. é também chamado o "Século de Péricles".

Os persas, entretanto, não desistiram. Dez anos depois, voltaram a atacar as cidades gregas (segunda guerra médica). Estas, por sua vez, esqueceram as disputas internas que existiam entre elas e uniram-se, vencendo os persas na Batalha de Salamina (480 a.C.) e na de Platéias (479 a.C.)

Após as guerras médicas, os gregos voltaram a enfrentar-se internamente e, de 431 a 404 a.C., decorreu a Guerra do Peloponeso, entre a Confederação de Delos (liderada por Atenas) e a Liga do Peloponeso (liderada por Esparta).

Após tantas guerras, as cidades gregas ficaram debilitadas e foram conquistadas por Felipe II da Macedônia, em 338 a.C. na batalha de Queroneia. Filipe II foi sucedido por seu filho Alexandre, que ampliou consideravelmente o domínio macedônico conquistando a Síria, a Fenícia, a Palestina, o Egito, a Pérsia e parte da Índia.


ANTECEDENTES
Nas costas ocidentais da Ásia Menor, colônias gregas se dedicavam ao comércio, desejando substituir os fenícios. A independência destas cidades jônicas terminou quando elas caíram uma após a outra nas mãos do rei Creso, da Lídia, obrigadas a pagar tributos, a situação ficou ainda pior quando o reino de Lídia caiu nas mãos do rei persa Ciro II em 546 a.C., tendo as cidades gregas o mesmo destino.

Posteriormente, o rei persa Dario I governou as cidades gregas com tato, procurando ser tolerante, seguindo a estratégia de dividir e vencer, apoiando o desenvolvimento comercial dos fenícios, que tinham sido anteriormente submetidos a seu império, e que eram rivais tradicionais dos gregos.

Além disto, os jônios sofreram mais golpes, como a conquista de seu florescente subúrbio de Naucratis no Egito, a conquista de Bizâncio, chave do Mar Negro e a queda de Sibaris, um de seus maiores mercados de tecidos e ponto de apoio vital para o comércio.

Destas acções, surgiu um ressentimento contra o opressor persa, sentimento que foi aproveitado pelo ambicioso tirano de Mileto, Aristágoras, para mobilizar as cidades jônicas contra o Império Persa, em 499 a.C.

Aristágoras pediu ajuda às metrópoles de Hélade, mas somente Atenas (que enviou vinte barcos – provavelmente a metade de sua frota) e Erétria (na ilha de Eubeia – que aportou cinco navios), acudiram o pedido. Esparta não ofereceu nenhuma ajuda. O exército grego dirigiu-se a Sardes, capital da satrapia persa da Lídia, e reduziu-a a cinzas, enquanto que a frota recuperava Bizâncio. Dario I, enfurecido, mandou seu exército, que destruiu o exército grego em Éfeso, e afundou a frota helénica na batalha naval de Lade.

Tentando sufocar a rebelião, os persas reconquistaram, uma após outra, as cidades jônias e, depois de um longo assédio, arrasaram Mileto, matando a maior parte da população na batalha e escravizando os sobreviventes, que foram deportados para a Mesopotâmia.

A PRIMEIRA GUERRA MÉDICA
Uma falange de hoplitas gregos.Após o duro golpe dado às cidades jônicas, Dario I decidiu castigar aqueles que haviam auxiliado os rebeldes, encarregando a represália a seu sobrinho Artafernes e a um nobre chamado Datis.

Em Atenas, alguns homens já viam os sinais do iminente perigo. O primeiro deles foi Temístocles, eleito arconte em 493 a.C. Temístocles acreditava que em Hélade não teria salvação em caso de um ataque persa, se Atenas não desenvolvesse antes uma poderosa marinha.

Dessa forma, fortificou o porto de Pireu, convertendo-o em uma poderosa base naval, mas logo surgiria um rival político que impediria o resto de suas reformas. Era Milcíades, membro de uma grande família ateniense das costas da Ásia Menor. Opunha-se a Temístocles, porque considerava que os gregos deviam defender-se primeiro por terra, acreditando na supremacia das largas lanças gregas contra os arqueiros persas. Os atenienses decidiram por em suas mãos a situação, enfrentando assim a invasão persa.

A frota persa chegou por mar no verão de 490 a.C., dirigidos por Artafernes, conquistando as ilhas Cíclades e posteriormente Eubeia, como represália por sua intervenção na revolta jônica. Posteriormente, o exército persa, comandado por Datis, desembarcou na costa oriental da Ática, em Maratona, lugar recomendado por Hípias (anterior tirano de Atenas) por ser considerada o melhor lugar.

Batalha de Maratona

A SEGUNDA GUERRA MÉDICA
Soldados gregos do tempo das Guerras Médicas: um fundeiro (esquerda) e dois hoplitas. O hoplita do meio possui um cortinado em seu escudo para proteção contra flechas.O vitorioso Milcíades quis aproveitar o momento de glória para expandir o poder de Atenas no Mar Egeu, e logo depois da batalha em Maratona enviou uma parte da frota contra as Cíclades, submetidas pelos persas.

Atacou a ilha de Paros, exigindo aos seus habitantes um tributo de 100 talentos, que foram negados, então a cidade foi ocupada, mas a defesa foi tão árdua que os gregos tiveram que contentar-se com uns poucos saques. Este pobre resultado começou a desiludi-los com relação a Milcíades, chegando inclusive a vê-lo como um tirano que depreciava as leis.

Os inimigos de Milcíades o acusaram de ter enganado o povo e o submeteram a um processo, o qual não pode se defender por ter sido ferido em um acidente e estar prostrado em uma cama. Ele foi declarado culpado, sendo salvo da pena capital comum nestes casos pelos serviços prestados anteriormente à pátria, mas foi condenado a pagar a elevada soma de 50 talentos. Pouco depois morreu por causa de suas feridas. Seria agora Temístocles quem tomaria o comando de Atenas.

Em 481 a.C., os representantes de diferentes polis, liderados por Atenas e Esparta, firmaram um pacto militar (simmaquia) para protegerem-se de um possível ataque do Império Persa. Segundo este pacto, em caso de invasão, corresponderia a Esparta a tarefa de comandar o exército helênico, em uma trégua geral, que inclusive propiciou o retorno de alguns exilados.

"Terão toda a terra e a água que quiserem"


Após a morte de Dario I, seu filho Xerxes I subiu ao poder na Pérsia, ocupando-se nos primeiros anos de seu reinado de reprimir revoltas no Egito e na Babilônia e continuando a preparação para atacar os gregos. Antes, havia enviado à Grécia embaixadores a todas as cidades para pedir-lhes terra e água, símbolos de submissão. Muitas ilhas e cidades aceitaram, mas Atenas e Esparta não.[3] Conta-se que os espartanos responderam aos embaixadores "Terão toda a terra e água que quiserem" e os jogaram em um poço. Era uma declaração de intenções definitiva.

Em Esparta, começaram a ocorrer problemas nefastos, que seriam causados pela ira dos deuses devido a este ato de insolência. Os cidadãos espartanos foram chamados para solicitar se algum deles seria capaz de se sacrificar para satisfazer os deuses e aplacar sua ira. Dois ricos espartanos ofereceram-se para se entregar ao rei persa, e se dirigiram para Susa, onde Xerxes os recebeu. Os emissários espartanos lhe disseram: "Rei dos Medos, fomos enviados para que possas vingar a morte dada a vossos embaixadores em Esparta". Xerxes lhes respondeu que não ia cometer o mesmo crime e que nem com sua morte os libertaria da desonra.


AS TERMÓPILAS
Mapa da invasão persa da Grécia (480 - 479 a.C.).O poderoso exército de Xerxes I, estimado em uns sessenta a setenta mil homens (a tradição grega diz que marchavam com milhões de homens), e melhor equipados que os anteriores, partiu em 480 a.C. "Levavam na cabeça uma espécie de sombreiro chamado tiara, de feltro de lã; ao redor do corpo, túnica; cobriam suas pernas com uma espécie de calças largas; em vez de escudos de metal levavam escudos de vime; lanças curtas, arcos grandes, flechas e punhais na cintura" (Homero).

Cruzaram o Helesponto e seguindo a rota da costa entraram na península. As tropas helênicas, que conheciam estes movimentos, decidiram detê-los ao máximo no desfiladeiro das Termópilas (que significa Portas Quentes).

Neste lugar, o rei espartano Leônidas colocou cerca de trezentos soldados espartanos e mais mil de outras regiões. Xerxes enviou uma mensagem de aviso: "Entregue-se, espartano, minhas flechas serão tão numerosas que cobrirão o sol." Leônidas então respondeu: "Ótimo, então lutaremos na sombra". Após cinco dias de espera e vendo que sua superioridade numérica não intimidava o inimigo, os persas atacaram.

Naquele desfiladeiro tão estreito os persas não podiam usar sua famosa cavalaria, e sua superioridade numérica estava bloqueada, visto que suas lanças eram mais curtas que as gregas. O estreito fazia com que o combate fosse com similaridade numérica de combatentes, e não lhes coube senão regressar depois de dois dias de batalha.

Mas ocorreu que os gregos foram traídos por Efíaltes, que conduziu Xerxes através dos bosques para chegar pela retaguarda à saída das Termópilas. A proteção do caminho havia sido encomendada a mil foceus, que tinham excelentes posições defensivas, mas se acovardaram ante o avanço persa e fugiram. Ao saber da notícia, alguns gregos viram o inútil de sua situação e para evitar uma matança, Leônidas decidiu então deixar partir quem quisesse, ficando ele e seus espartanos firmes em seus postos.

Atacados, os espartanos sucumbiram depois de derramar muito sangue persa. Posteriormente se levantaria nesse lugar a inscrição: "Viajante, vê e diz a Esparta que morremos por cumprir com suas sagradas leis".



A BATALHA DE SALAMINA
Soldados gregos no tempo das Guerras Médicas. Um cavaleiro tessálio e soldado com dardo e bolsa com pedras.Com o passo das Termópilas liberado, toda a Grécia central estava aos pés do rei persa. Após a derrota de Leônidas, a frota grega abandonou suas posições em Eubea e evacuou Atenas, buscando refúgio para as mulheres e os filhos nos arredores da ilha de Salamina. Desse lugar presenciaram o saque e incêndio da Acrópole pelas tropas dirigidas por Mardônio. Apesar disto, Temístocles tinha um plano: atrair a frota persa e forçar o combate (a batalha da Salamina), o que foi uma estratégia que sairia vitoriosa. Conta a lenda que Temístocles se fez passar por traidor ante o rei da Persa, incitando-o a uma vitória segura em Salamina, mas esta história é provavelmente falsa.

A batalha naval deu-se no estreito que separa Salamina da Ática, no mês de setembro de 480 a.C. Após as vitórias na Tessália e em Termópilas, a devastação da Beócia e da Ática, o rei persa Xerxes entrou em Atenas, destruindo inclusive os monumentos da Acrópole, desenvolvendo aquela que ficou conhecida pela Segunda Guerra Médica.

Enquanto os coríntios e os espartanos defendiam uma aglomeração militar no Istmo, Temístocles concentrou a frota de 200 embarcações (trirremes) na baía de Salamina, enfrentando a frota persa, que, apesar do seu maior número, tinha dificuldades evidentes de maneabilidade no espaço exíguo do estreito, pelo que é completamente derrotada pelos gregos. Xerxes foi obrigado a regressar à Ásia Menor, deixando o comando das tropas restantes ao seu lugar-tenente Mardónio, que foi derrotado em 479 a.C. na Batalha de Plateias, enquanto sua esquadra era destruída na Batalha de Mícale, nas costas da Ásia Menor.

Diante da necessidade de organizar a defesa e de equipar o exército, Atenas liderou a formação da Confederação de Delos, uma aliança entre várias cidades-estados gregas que deveriam contribuir com navios ou dinheiro nos gastos da guerra.


TEMISÓCLES
O certo é que Xerxes I decidiu entravar o combate naval, utilizando um grande número de barcos, muitos deles de seus súditos fenícios. A frota persa não tinha coordenação ao atacar, enquanto que os gregos tinham mostrado sua estratégia: suas alas envolveriam os navios persas e os empurrariam uns contra os outros para privá-los de movimento. Seu plano resultou em um caos entre a frota persa, com terrível resultado: seus barcos se chocaram entre si, indo a pique muitos deles e contando ainda que os persas não eram bons nadadores, enquanto os gregos ao cair ao mar podiam nadar até a praia. A noite pôs fim ao combate, do qual se retirou destruída a outrora poderosa armada persa. Xerxes presenciou impotente a batalha, do alto de uma colina.

"Os helenos sabiam que quando chega a hora do combate, nem o número nem a majestade dos barcos nem os gritos de guerra dos bárbaros podem atemorizar os homens que sabem se defender corpo a corpo, e têm o valor de atacar o inimigo" (Plutarco)


FIM DAS GUERRAS MÉDICAS – AS BATALHAS DE PLATÉIAS E MÍCALE
Ver artigos principais: Batalha de Platéias e Batalha de Mícale
Temístocles quis levar a guerra à Ásia Menor, enviar ali a frota e sublevar as colônias jônicas contra o rei da Pérsia, mas Esparta se opôs, por temor de deixar desprotegido o Peloponeso.

Por estas razões, a guerra continuou na Europa, voltando o exército persa a invadir a Ática em 479 a.C.. Mardônio ofereceu a liberdade aos gregos se firmassem a paz, mas o único membro do conselho de Atenas que votou por essa causa foi condenado à morte por seus companheiros. Desta forma, os atenienses souberam buscar refúgio novamente em Salamina, sendo incendiada sua cidade pela segunda vez.

Ao saber que o exército espartano (ameaçado pelos atenienses para que lhes dessem ajuda) se dirigia contra eles, os persas se retiraram até o Oeste, em Platéias. Dirigidos por seu regente Pausânias, conhecido por seu sangue frio, os espartanos conseguiram em 479 a.C. outra estrondosa vitória sobre os persas, capturando de uma vez um grande barco que estava esperando no acampamento persa. Provavelmente no mesmo dia da vitória em Plateia, ocorreu a vitória grega na batalha naval de Mícale[4], que foi também um sinal para o levantamento dos jônios contra seus opressores. Os persas se retiraram da Hélade, pondo assim fim aos sonhos de Xerxes I de conquistar o mundo helênico. Desta forma as Guerras Médicas, em que se enfrentaram pela primeira vez o Oriente e o Ocidente, chegaram ao fim.





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segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

1200 a.C.: Guerra de Tróia


A Guerra de Tróia realmente aconteceu? A extensão do apelo que a estória tem exercido sobre sucessivas gerações é demonstrada pelos esforços de incontáveis historiadores, arqueólogos e românticos entusiastas para estabelecer a base histórica para a guerra de Tróia. Atualmente, é geralmente aceito que o local foi corretamente identificado no final do século XIX por Heinrich Schliemann no monte Hissarlik, na planície dos Dardanelos, na costa noroeste da Turquia. Entretanto, a afirmação de Schliemann de ter descoberto a Tróia da guerra de Tróia é nos dias de hoje largamente desacreditada. O monte Hissarlik contém numerosos níveis sucessivos de habitação, e foi num dos mais recentes que Schliemann afirmava ter descoberto o maravilhoso tesouro: esta posição é agora considerada como sendo nova demais da ordem de mil anos, para ter sido destruída pelos gregos dos palácios de Micenas do continente grego. Estes podem ter sido o instrumento de destruição de um dos mais antigos níveis de Hissarlik, o qual parece ter sido queimado até o chão, possivelmente após um cerco, ao redor do período correto (por volta de 1200 a.C.). Esta Tróia mais antiga apresentava características bastante humildes, mas na sua destruição deve estar a semente da realidade histórica ao redor da qual a lenda surgiu. Entretanto, o desenvolvimento da lenda permanece um mistério com poucas possibilidades de ser solucionado pelos arqueólogos, assim então não havendo perigo que o romântico enigma de Tróia seja destruído.

Seja qual for a base histórica, a guerra de Tróia é o episódio isolado mais importante, ou complexo de episódios, que sobreviveram na mitologia e nas lendas gregas. Os eventos que causaram a guerra e aqueles que se seguiram estão combinados num grupo de estórias conhecidas como o Ciclo Troiano: algumas são conhecidas a partir dos dois grandes poemas Homéricos, a Ilíada e a Odisséia, mas outras partes da estória devem ser reunidas de numerosas outras fontes, indo desde os dramaturgos gregos do século V a.C., até autores romanos mais recentes. A estória como um todo pode ser comparada a uma ópera wagneriana na sua riqueza e complexidade ao entrelaçar personagens e temas; é bastante romântica e de grande apelo humano, pois, como todos os mitos gregos, trata-se da estória fundamental do homem e sua luta para existir em face do destino e dos deuses.

Um dos primeiros elos da cadeia de eventos que formaram o prelúdio da guerra de Tróia foi forjado por Prometeu, o grande benfeitor da humanidade. Prometeu, um primo de Zeus, tinha dado o fogo aos homens, um elemento cujos benefícios tinham tão-somente sido desfrutados pelos deuses. Tinha também ensinado os homens para oferecer aos deuses apenas a gordura e os ossos em sacrifícios de animais, mantendo as melhores partes para eles próprios. Para punir Prometeu, Zeus o acorrentou num alto penhasco nas montanhas e diariamente enviava uma águia para comer seu fígado, o qual voltava a crescer à noite.

De acordo com algumas fontes, Prometeu acabou sendo libertado por Hércules, mas outras dizem que foi libertado por Zeus, quando finalmente concordou em contar-lhe um importante segredo. Este segredo relacionava-se à ninfa do mar Tétis, que era tão bela que contava com vários deuses entre seus admiradores, incluindo Posídon e o próprio Zeus; entretanto uma profecia conhecida apenas por Prometeu predisse que o filho de Tétis estava destinado a ser mais importante que seu pai. Ao saber disso, Zeus rapidamente abandonou a idéia de ser o pai de um filho de Tétis, decidindo, ao invés, que deveria se casar com o mortal Peleu; o filho nascido deles seria Aquiles, o maior dos heróis gregos em Tróia.

Tétis inicialmente resistiu aos avanços de Peleu, assumindo a forma de fogo, serpentes, monstros e outras formas, mas ele a segurava fortemente apesar de todas as suas transformações, acabando por se submeter. Todos os deuses e deusas do Olimpo, menos uma, foram convidados para o magnífico casamento de Peleu e Tétis; no meio da festa, Éris, a única deusa que não tinha sido convidada, entrou abruptamente no local e atirou entre os convidados o Pomo da Discórdia, com a inscrição "a mais formosa". Esta maça foi requisitada por três deusas, Hera, Atena e Afrodite. Como elas não conseguiram chegar a um acordo, e Zeus estava compreensivelmente relutante em resolver a disputa, enviou as deusas para terem suas belezas julgadas pelo pastor Páris, no Monte Ida, fora da cidade de Tróia, na orla oriental do Mediterrâneo.

Páris era filho de Príamo, rei de Tróia, mas quando a esposa de Príamo, Hécuba, estava grávida de Páris, sonhou que estava dando à luz a uma tocha donde surgiam serpentes sibilantes, assim, quando o bebê nasceu, foi entregue a uma criada com ordens de levá-lo ao Monte Ida e matá-lo. A criada, entretanto, ao invés de matá-lo, simplesmente o deixou na montanha para morrer; ele foi salvo por pastores, sendo criado para também se transformar em um deles. Enquanto Páris estava vigiando seu rebanho, Hermes levou as três deusas para que as julgasse. Cada uma ofereceu uma recompensa se fosse a escolhida; Hera ofereceu riqueza e poder, Atena ofereceu habilidade militar e sabedoria e Afrodite ofereceu o amor da mais bela mulher do mundo. Conferindo a vitória a Afrodite, acabou incorrendo na ira das outras duas, as quais se tornaram daí para a frente inimigas implacáveis de Tróia. Logo depois, Páris retornou por acaso a Tróia, onde sua habilidade nas competições atléticas e sua surpreendente bela aparência causaram interesse nos seus pais, que rapidamente estabeleceram sua identidade e o receberam de volta com entusiasmo.

A mais bela mulher do mundo era Helena, a filha de Zeus e Leda. Muitos reis e nobres desejaram desposá-la, e antes que seu pai mortal, Tíndaro, anunciasse o nome do feliz escolhido, fez todos jurarem respeitar a escolha de Helena e virem em ajuda de seu marido se fosse raptada. Helena casou com Menelau, rei de Esparta, e na época que Páris veio visitá-los tinham uma filha, Hermíone. Menelau recebeu Páris muito bem em sua casa, mas Páris pagou esta hospitalidade raptando Helena e fugindo com ela de volta a Tróia. A participação de Helena nesta situação é explicada de diferentes maneiras nas várias fontes: foi raptada contra a sua vontade, ou Afrodite deixou-a louca de desejo por Páris ou, a mais elaborada de todas, nunca foi para Tróia, e foi por causa de um fantasma que os gregos gastaram dez longos anos em guerra.


A Expedição Parte

Menelau convocou todos os outros pretendentes anteriores de Helena, e todos os outros reis e nobres da Grécia, para ajudá-lo a montar uma expedição contra Tróia, de modo a recobrar sua esposa. O líder da força grega era Agamenon, rei de Micenas e irmão mais velho de Menelau. Os heróis gregos afluíram de todos os cantos do continente e das ilhas para o porto de Áulis, o ponto de reunião a partir do qual planejavam velejar através do Egeu até Tróia. Suas origens e os nomes de seus líderes estão listados no grande Catálogo de Navios próximo ao início da Ilíada.

"As tribos (de guerreiros) vieram como as incontáveis revoadas de pássaros - garças azuis ou cisnes de longos pescoços - que se reúnem nas campinas da Ásia nas correntes de Cayster, e movimentando-se com gritos agudos ao chegarem ao chão, numa frente avançada. Assim, tribo após tribo surgiram de barcos e cabanas... inumeráveis como as folhas e flores em suas estações".

Alguns dos heróis viera a Áulis mais facilmente do que outros. Ulisses, rei de Ítaca, conhecia a profecia que se fosse a Tróia não retornaria por vinte anos, e então fingiu loucura quando o mensageiro Palamedes chegou para convocá-lo, atrelando duas mulas a um arado e movendo-as para cima e para baixo na praia; mas a farsa de Ulisses foi revelada quando Palamedes colocou o filho pequeno de Ulisses, Telêmaco, na frente das mulas, e Ulisses imediatamente voltou ao normal. Os pais de Aquiles, Peleu e Tétis, estavam relutantes em deixar seu jovem filho se juntar à expedição, pois eles sabiam estar predestinado que se fosse morreria em Tróia. Numa tentativa de evitar o destino, o enviaram para Ciros, onde, disfarçado como uma moça, se juntou às filhas do rei, Licomedes. Durante esta estada se casou com uma das filhas, Deidaméia, que lhe deu um filho, Neoptólemo.

Ulisses, entretanto, descobriu que os gregos nunca conseguiriam capturar Tróia sem a ajuda de Aquiles; assim foi até Ciros para buscá-lo. De acordo com uma das versões da estória, Ulisses disfarçou-se de mascate, conseguiu entrar no palácio e espalhou suas mercadorias à frente das mulheres; entre as jóias e os tecidos havia armas às quais o jovem Aquiles demonstrou um interesse revelador. Outra fonte descreve como Ulisses arranjou para que soasse uma trombeta nos aposentos das mulheres: enquanto as filhas genuínas se espalhavam em confusão, Aquiles ficou no seu lugar e empunhou suas armas. Tendo abandonado seu disfarce, Aquiles foi facilmente persuadido a acompanhar Ulisses de volta a Áulis, onde a frota estava se preparando para zarpar.

A grande força grega, cujos maiores heróis eram Agamenon, Menelau, Ulisses, Ájax, Diomedes e Aquiles, estava pronta para partir, mas o vento teimosamente ficou contra eles. Eventualmente, o profeta Calcas revelou que a deusa Ártemis exigia o sacrifício da filha de Agamenon, Ifigênia, antes que o vento mudasse. Agamenon ficou horrorizado pela profecia, mas a opinião pública o obrigou a obedecer: Ifigênia, chamada sob o pretexto de casar com Aquiles, foi, ao contrário, morta sobre o altar. Algumas fontes dizem que Ártemis ficou com pena dela no último momento e a substituiu por um cervo; de qualquer maneira, o vento mudou de direção e os barcos zarparam.

A Ira de Aquiles

Algumas vezes se considera que a Ilíada é a estória da guerra de Tróia. De fato, apesar de ela se estender largamente sobre toda a estória, seu objetivo ostensivo, como anunciado nas primeiras linhas, é mais restrito:

"Canto de ira, deusa, a destruidora ira de Aquiles, filho de Peleu, que trouxe incontáveis dores aos Aqueus, e mandou muitas almas valiosas de heróis a Hades, enquanto seus corpos serviam de alimento para os cães e pássaros, e a vontade de Zeus foi feita... "

A estória da Ilíada é, então, a estória de Aquiles, e sua disputa com Agamenon. Ao início da Ilíada os gregos já estavam em Tróia por nove anos. Eles tinham saqueado uma grande parte dos campos ao redor e tinham escaramuças esporádicas com quaisquer troianos que saíssem de trás de suas maciças fortificações. Os gregos estavam ficando cansados da campanha e irritados por sua falta de habilidade em conseguir uma vitória decisiva sobre a própria Tróia, quando Aquiles se desentendeu com Agamenon sobre um assunto de honra.

Agamenon, como parte do saque de um ataque o qual Aquiles desempenhou a parte principal, recebeu uma moça chamada Criseida, filha de Crisos, sacerdote de Apolo. Crisos ofereceu a Agamenon um bom resgate para a libertação da moça, porém Agamenon se recusou a libertá-la. Assim Crisos orou a Apolo, que mandou uma praga sobre o acampamento grego, e o profeta Calcas revelou que esta seria retirada apenas se Agamenon devolvesse Criseida. Aquiles estava completamente a favor de fazer isso, mas Agamenon estava relutante. Eles discutiram, e Agamenon acabou por concordar a fazer o que estava sendo ordenado, mas para reafirmar sua autoridade sobre Aquiles da maneira mais insultuosa que podia, e simultaneamente compensar-se pela perda de Criseida (a qual ele declarou preferir à sua própria esposa Clitemnestra), tomou Aquiles sua escrava, Briseida. Aquiles ficou justificadamente enraivecido. Não apenas foi um insulto à sua honra, mas também foi grandemente injusto, pois ele, Aquiles, tinha conduzido a maior parte da luta necessária a produzir os tesouros e o saque que Agamenon considerava no direito de usufruir. Assim, Aquiles se retirou para sua tenda, e não tomou mais parte nos combates ou nas reuniões do conselho. A luta se tornou mais dura, com ataques mais diretos feitos a Tróia e aos troianos. Mas os gregos estavam numa situação difícil sem seu maior guerreiro, e mesmo Agamenon tentou fazer contatos com Aquiles, oferecendo-lhe riquezas de todos os tipos, justamente com a devolução de Briseida. Aquiles, entretanto, rejeitou todos os apelos, declarando mesmo que se as ofertas de Agamenon fossem "tantas como os grãos de areia ou as partículas de pó" nunca se curvaria.

Nesta ocasião, Ulisses e Diomedes empreenderam uma expedição noturna para espionar os troianos. Não sabendo disso, um troiano de nome Dolon estava tentando fazer a mesma coisa: os gregos o surpreenderam e o forçaram a contar as disposições do acampamento troiano. Seguindo sua orientação, terminaram sua expedição noturna com um ataque ao acampamento de Reso, rei da Trácia, em cujos belos cavalos escaparam de volta para o acampamento grego.

Apesar do sucesso desta temerária ação, o geral da luta os gregos estavam sendo empurrados de volta a seus navios pelos troianos e estavam ficando desesperados, quando o amigo de Aquiles, Pátroclo, veio até ele e rogou a permissão de liderar as tropas de Aquiles, os Mirmidões, em batalha. Pediu também se poderia emprestar a armadura de Aquiles, de modo a espalhar o terror nas linhas troianas, que poderiam tomá-lo por Aquiles. Aquiles concordou, e Pátroclo foi e lutou longa e gloriosamente, antes de, previsivelmente, ser morto por Heitor, filho de Príamo e o melhor guerreiro do lado troiano.

Aquiles foi tomado pela dor. Sua mãe, a ninfa do mar Tétis, veio até ele e prometeu-lhe uma nova armadura para substituir a que tinha sido perdida com Pátroclo. A nova armadura, feita pelo deus-ferreiro Hefesto, incluía um bonito escudo coberto com cenas figuradas, cidades em guerra e em paz, cenas da vida rural com rebanhos, pastores e danças rústicas, e ao redor da borda do escudo corria o Rio de Oceano. Aquiles e Agamenon se reconciliaram e Aquiles retornou ao campo de batalha, onde matou um troiano após outro com sua lança "como um vento impetuoso que revolve as chamas, quando um incêndio grassa nas ravinas das bases secas pelo sol das montanhas, e a grande floresta é consumida". Após ter matado muitos troianos e sobreviventes mesmo ao ataque do Rio Escamandro, o qual tentou afogá-lo nas suas grandes ondas, Aquiles estava finalmente pronto a enfrentar seu principal adversário, Heitor.

O restante dos troianos tinha fugido da matança de Aquiles e buscado refúgio atrás de suas muralhas, mas Heitor permaneceu fora dos portões, deliberadamente esperando pelo duelo que sabia ter que enfrentar. Mas quando Aquiles finalmente surgiu, Heitor foi tomado de compreensível terror e virou-se para fugir. Percorreram três voltas ao redor das muralhas de Tróia antes que Heitor parasse e destemidamente enfrentasse seu bravo oponente. A lança de Aquiles alojou-se na garganta de Heitor, caindo este ao chão. Mal podendo falar, Heitor pediu a Aquiles que permitisse que seu corpo fosse resgatado após sua morte, mas Aquiles, furioso com o homem que tinha morto Pátroclo, negou seu apelo e começou a sujeitar seu corpo a grandes indignidades. Primeiro o arrastou pelos calcanhares atrás de sua carruagem, ao redor das muralhas da cidade, para que toda Tróia pudesse ver. A seguir levou o corpo de volta ao acampamento grego, onde este ficou jogado sem cuidados em suas choupanas.

Aquiles preparou então um elaborado funeral para Pátroclo. Uma grande pira foi construída; sobre ela várias ovelhas e bois foram sacrificados e suas carcaças empilhadas ao lado do corpo do herói morto. Jarros de mel e óleo foram adicionados à pira, a seguir quatro cavalos e dois dos cachorros de Pátroclo. Doze prisioneiros troianos mortos sobre a pira, a qual então foi deixada acesa. Ardeu toda a noite, e durante toda a noite Aquiles colocou libações com vinho e pranteou Pátroclo bem alto. Nos dia seguinte os ossos de Pátroclo foram coletados e colocados numa urna dourada, e um grande monte foi erguido no local da pira. Jogos funerários com prêmios magníficos foram feitos, com competições entre carruagens, luta de boxe, pugilato, corridas, lutas armadas, arremesso do disco e tiros com arco e flecha. E todo o dia ao amanhecer, por doze dias. Aquiles arrastou o corpo de Heitor três vezes ao redor do monte, até que mesmo os deuses, que tinham previsto e arranjado tudo isso, ficaram chocados; Zeus enviou Íris, mensageiro dos deuses, para Tróia em visita a Príamo e o instruiu a ir secretamente ao acampamento troiano com um bom resgate, que Aquiles aceitaria em troca da libertação do corpo do filho de Príamo.

Assim Príamo, escoltado por um simples mensageiro, se dirigiu ao acampamento grego, sendo encontrado ao escurecer, quando se aproximava dos navios gregos, por Hermes disfarçado como um seguidor de Aquiles. Hermes guiou Príamo pelo acampamento grego, de modo que chegou sem ser percebido à tenda de Aquiles. Príamo entrou diretamente e jogou-se aos pés de Aquiles: ele pediu que o herói pensasse no seu próprio pai Peleu e tivesse mercê com um pai que tinha perdido tantos de seus bons filhos nas mãos dos gregos; pediu que fosse permitido levar o corpo de seu maior filho de volta a Tróia com ele, de modo que pudesse ser adequadamente pranteado e enterrado pelos seus parentes. Aquiles ficou tocado pelo apelo; choraram juntos, e o pedido de Príamo foi aceito. Assim, o corpo de Heitor foi devolvido a Tróia, onde foi velado e sepultado com os ritos adequados.

Aqui acaba a Ilíadamas não é de forma nenhuma o fim da estória de Tróia. O restante da estória é recontada parcialmente na Odisséia e em parte pelos dramaturgos, mas também por autores romanos posteriores, principalmente Cirílico na Emelia e por uma miscelânea de poetas como Quintus de Smirna. Após a morte de Heitor, uma grande número de aliados vieram auxiliar os troianos, incluindo as Amazonas com sua rainha, Pentesiléia, e os Etíopes liderados por Mêmnon, um filho de Éos, deusa da aurora. Tanto Pentesiléia como Mêmnon foram mortos por Aquiles. Mas Aquiles sempre soube que estava destinado a morrer em Tróia, longe de sua terra natal, onde acabou sendo morto por uma flecha, lançada pelo arco de Páris. A mãe de Aquiles, Tétis, quis tornar seu filho imortal, e, quando este era ainda um bebê, levou-o ao Mundo Inferior e o imergiu nas águas do rio Estige; isto tornou seu corpo imune aos ferimentos, exceto pelo calcanhar, o qual ela utilizou para segurá-lo, sendo lá que a flecha o acertou.
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